A FlaTV vai mudar

Já está virando uma tradição. Assim como todo ano tem Natal, Páscoa, Carnaval e Dia das Mães, tem também a Época do Flamengo Se Preocupar Com o Íbson Indo Embora. Novamente, a data da partida está se aproximando e os dirigentes se mexem pra juntar moedinhas e tentar mantê-lo por aqui - por empréstimo ou em definitivo.

Neste momento, é interessante lembrar do lançamento da FlaTV e da expectativa criada por Kléber Leite em cima de seu faturamento: "nosso projeto número 1 com a FlaTV é comprar o Íbson, pra ele nunca mais deixar o Flamengo."

Qualquer um que conhecesse minimamente o mercado de Internet sabia que a projeção kleberleiteana era uma viagem sem tamanho. Seria mesmo impossível chegar à "projeção inicial de 500 mil assinantes" (e ler agora que "alguns investimentos foram feitos com base nesta expectativa de receita" pode explicar um tanto da situação financeira do clube hoje).

É claro que havia gente tocando o projeto que sabia que nada disso se tornaria realidade - e, ao longo do tempo, foram dadas algumas entrevistas dizendo que o resultado (cerca de 5 mil assinantes, segundo disse em entrevista Luiz Fernando Pozzi, do marketing do clube, no início do ano)  era bom, dentro da expectativa e do tamanho do mercado. De qualquer forma: o modelo vai mudar.

* * * * * * * * * * * * * *

Entrem na TimãoTV e na FlaTV e comparem - as semelhanças de layout não são mera coincidência. Os dois sites foram desenvolvidos pela DB4, parceira de Flamengo e Corinthians nas empreitadas. 

Pois recentemente li uma entrevista de Luiz Paulo Rosenberg, responsável pelo marketing do Corinthians, que me chamou a atenção. Ao contrário de seus pares rubro-negros, Rosenberg diz com todas as letras que a tentativa de vender assinaturas da TimãoTV foi um fracasso de sua gestão - os números que encontrei realmente colocam a iniciativa um tanto abaixo da rubro-negra: cerca de 3 mil assinantes. E a solução, pra ele, é abrir o conteúdo e tentar faturar com publicidade. Na verdade, na entrevista, publicada no início de maio, ele dizia que isso já tinha sido feito.

Olhando a TimãoTV no ar, a gente vê que não é bem assim - ainda aparecem no site vinhetas com a informação dos preços de assinatura. De qualquer forma, me bateu a curiosidade: se por lá, com uma iniciativa no mesmo formato, em parceria com a mesma empresa, a ideia é abrir tudo, como ficaria com o Flamengo?

Fiz a pergunta a Ricardo Hinrichsen, o diretor executivo do marketing do Flamengo, e a Diogo Boni, o homem por trás da DB4: há a intenção do Flamengo abrir o conteúdo da FlaTV? A resposta de Ricardo: "sim, porém não resolvemos exatamente como. O fundamental é que os atuais assinantes não sejam prejudicados". Boni já não foi tão incisivo na intenção de abrir, mas confirmou que estão "estudando um novo formato para os dois clubes".

* * * * * * * * * * * * * *

Não adianta simplificar a discussão e dizer que o projeto do Flamengo, ou do Corinthians, foi simplesmente um fracasso. Pode-se discutir a divulgação dos serviços, ou mesmo a qualidade de seu conteúdo; mas o fato é que cobrar ou não cobrar por conteúdo na Internet é uma decisão delicada. Ao mesmo tempo que não há cultura de pagar por conteúdo online, especialmente no Brasil, e todo mundo tem dificuldades de fazer este tipo de venda, também há a dificuldade de qualquer site de porte conseguir se manter apenas com publicidade. É algo que atinge pequenos e gigantes, no Brasil e no Mundo. Gente como Washington Post ou New York Times vive a mesma encruzilhada, com decisões que vão e voltam à medida que o pessoal lá faz e refaz suas contas. Há muita gente tentando e estudando diversos modelos pra encontrar suas respostas - os modelos de negócio na Internet, hoje, ainda são criados muito na base da tentativa-e-erro.

No Brasil, há clubes com suas TVs online gratuitas, já faz tempo. Uma das consideradas de maior sucesso é a do Grêmio, que funciona como rádio e TV, lançada em abril de 2007. Ao que parece, sua programação é bem popular entre os tricolores gaúchos. Mas - dá dinheiro?

3 comentários:

Marcelo Constantino disse...

André, vc já viu que a Fla RS descobriu que, se fizer as coisas por conta própria, paga QUATRO VEZES MENOS do que comprar o pacote do "Onde estiver estarei"?

Acho que vale uma boa matéria -- até pq a diretoria de marketing respondeu à matéria (embora sem conseguir convencer, naturalmente).

[está no blog do Ancelmo Gois, no Globo online)

Marcelo Constantino disse...

Faltou dizer: depois de já termos mais com empréstimos do Ibson do que recebemos com a venda dele, agora iremos comprá-lo. Por mais do que vendemos, claro.

Imagine vc vender seu apto e, anos depois, começar a alugá-lo. Depois de já ter gasto com aluguél mais do que recebeu com a venda, agora decide comprar o apto de volta. Mais caro do que vendeu.

Esse é o Flamengo. [ainda que eu reconheça que é ipte ter o Ibson]

Marcos Monnerat disse...

Se o Flamengo comprar o Íbson ele recebe dele mesmo o percentual destinado ao clube formador do atleta?