Sim, camisas limpas

O que já foi anunciado algumas vezes antes, parece que agora acontece pra valer: o Flamengo encerra sua parceria com a Petrobras, por pura impossibilidade de assinar um novo contrato por continuar devendo ao Estado. 

As camisas, ao que parece, serão limpas por pouco tempo. A diretoria avisa que não serão vendidos uniformes sem marca de patrocinador - o que seria um produto desejadíssimo no mercado, mas que não geraria dinheiro para o clube, só para a Nike. Em vez disso, os poucos exemplares usados no jogo de domingo servirão de prêmio para a promoção Manto Sagrado - para concorrer às relíquias, é preciso enviar uma declaração de amor por sms, mensagem de voz ou vídeo.

Não sei dizer o que o marketing do Flamengo espera capitalizar em cima das participações por telefone fixo (deve haver uma remuneração das operadoras de telefonia) ou de vídeo (talvez venda de publicidade no hotsite onde os vídeos serão exibidos). Por sms, cada mensagem enviada custará ao participante R$0,31 + impostos - e, pelo que é normal neste mercado, o Flamengo deve ficar com mais ou menos 25% disso aí, talvez descontando mais alguma comissão de agência (a promoção está sendo realizada pela DB4, a mesma parceira da FlaTV, e pela Agência 3).


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Quanto à saída da Petrobras: demorou demais. Deveria ter acontecido há pelo menos cinco anos, quando o clube, já passando perrengue com suas dívidas de impostos, começou a ter problemas para receber o dinheiro da estatal. De lá pra cá, quantos adiantamentos de outras receitas foram feitos para cobrir o rombo deixado pelas paradas no recebimento de patrocínio? Quantos problemas internos surgiram por conta de salários atrasados, quando as cotas paravam de pingar? Quanto de juros se acumulou em dívidas criadas por conta disso? Qual não foi o impacto negativo na imagem do clube por todos esses problemas - algo que agora com certeza vai influenciar no valor do próximo patrocínio?

Toda esta situação foi tratada da pior maneira possível, ao longo destes anos. As negociações sempre foram feitas em cima da hora - o que, pelo segundo ano seguido, fez com que o time jogasse exibindo nas camisas as marcas da BR sem ter um contrato para isso. Tivesse ido ao mercado antes, o clube com certeza já teria hoje um parceiro privado - que, quem sabe, talvez até pagasse menos. Mas pagaria em dia, e deixaria a vida do clube seguir tranquila.



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A informação que me deram é que realmente retiraram o "Lubrax" das camisas por lá na Gávea - esta marca não era impressa direto no tecido, e sim aplicada em outro material. Por isso, é possível retirá-la. As outras marcas - do peito, costas e mangas - já são impressas no pano, e serão pintadas.

Espero que o serviço tenha sido bem feito, para o prêmio dos vencedores ser bonitinho como merecem.


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E a promoção será mesmo feita em cima de camisas usadas pelo time reserva?


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Pra completar, eis a notícia publicada hoje no Globo:

Hoje, o presidente do Conselho Deliberativo, Walter D'Agostino, e o presidente em exercício, Delair Dumbrosck, vão receber um documento assinado por conselheiros e ex-presidentes. Nele, são propostas medidas contra a grave crise e o progressivo endividamento. Uma delas é um modelo similar à Lei de Responsabilidade Fiscal adotada no setor público. O clube limitaria gastos em cerca de 50% da receita orçada.
Parece bom demais pra ser verdade.

4 comentários:

Lucas Dantas disse...

Monnerat,

Essa linda camisa do post será vendida? hehehe

Cara, é lógico que estou feliz com a saída da BR do Flamengo, mas o que me incomoda é o linguajar do clube. É sempre a história de "a culpa é deles, não nossa". Isso atrasa demais o Flamengo.

Paulo Lima disse...

Pois é, Monnerat!

Concordo com que o Lucas escreve e o que escreveu no blog do meu amigo Damato.

É muita ingenuidade achar que o problema não era do Flamengo. Fico triste porque resolveram um problema (da falta de verbas), mas pela via mais fácil (ou seja, de ignorarem o esforço de pagar as dívidas fiscais e se habilitar para receber as cotas da estatal).

André Monnerat disse...

Paulo e Lucas - é ÓBVIO que o problema todo pra receber da BR era causado pelo próprio Flamengo. Disso, não resta a menor dúvida. E já dura uns bons 5 anos.

Como eu falei, eles lidaram com esse problema da pior maneira possível. O ideal era já terem se organizado pra pagar os impostos em dia há tempos. Antes, o problema era mesmo de gestões anteriores, que acumularam uma dívida gigantesca e perderam o Refis 2 (a última chance de negociação da dívida que a lei previa). Mas depois da Timemania, que regularizou a dívida antiga, isso devia estar resolvido. Só que deixaram de pagar impostos de novo...

Sergio disse...

O que mete medo é que mesmo com a obrigatoriedade dos impostos em dia para recebimento das cotas de patrocínio da Petrobrás, a diretoria não deu a mínima, tendo preferido investir em contratações e pagamento de salários fora da realidade do futebol brasileiro.E agora sem essa obrigatoriedade?

Um dia a casa cai, um dia a União irá cobrar o que lhe é devido que, diga-se, é uma apropriação indébita. Aí perderemos tudo.

E a Timemania? O risco é enorme de se perder os benefícios da lei pelo não cumprimento de uma regra básica: impostos em dia.