Brasileiro 2008 - 37a. rodada - Flamengo 3 x 3 Goiás

Ainda nos tempos de escola, fui o orgulhoso camisa 8 do Fúria Alvi-Verde - time que fazia suas partidas nas areias de Copacabana. Joguei a maior parte dos jogos no ataque, sempre brigando pra conseguir carregar a bola com a areia atrapalhando. Mas o pessoal era esforçado e outros ali conseguiam se sair melhor do que eu. Ganhávamos mais do que perdíamos.

Já na faculdade de comunicação da UFRJ, ganhei a camisa 9 do time do nosso período - o primeiro a ser campeão da ECO ainda como calouros. Jogava no meio e não era um dos destaques da equipe, embora tenha sido artilheiro em alguns campeonatos por ser o cobrador oficial de faltas e pênaltis.

Estou lembrando destes dois valorosos times pensando no seguinte: se a qualquer um deles fosse dada a chance de enfrentar o Goiás, sem interesse nenhum no campeonato, em casa, com 30 mil pessoas torcendo a favor e 3x0 no placar, seria impossível que deixassem de vencer.


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Não dava mais pra imaginar algum fracasso deste time no Maracanã que ainda conseguisse surpreender, depois dos adventos de América do México, Atlético-MG, Portuguesa. Mas este, daquela maneira, realmente foi algo de se espantar. O jogo começou como um passeio, daqueles coroados por gols de Obina (foi mal, eu sou mesmo fã do cara), lembrando aquela partida contra o Coritiba. Mas acabou do jeito que acabou, de maneira patética, com um time perdido, desesperado, atacando de qualquer jeito, levantando bolas na área a esmo. O mínimo que podiam fazer era, ao fim do jogo, se reunirem todos na coletiva e pedirem desculpas aos torcedores que, no último jogo da temporada, depois de tudo o que o Flamengo já havia aprontado no Maracanã ao longo do ano, apareceram no estádio.

Há de existir mil fatores psicológicos ou metafísicos que expliquem o desempenho deste time no Maracanã este ano. A grande maioria destes jogadores estava no time de Joel do ano passado, que passava por cima de quem viesse quando jogava em casa e jogava um futebol abaixo da crítica sempre que saía do Rio. O que diabos mudou?

Mas, fora as razões misteriosas que tentaremos decifrar em vão ao longo de conversas em mesa de bar, há os motivos técnicos específicos pra cada derrota. Os de ontem começam por um óbvio e repetitivo: a presença de Jaílton na zaga, fazendo mais um pênalti estúpido e desnecessário logo após o terceiro gol, ressuscitando o adversário quando ele já parecia morto e enterrado.

Fiz aqui, há rodadas, um levantamento de gols entregues pelo bravo Jaílton, presença obrigatória no time titular por razões táticas "indiscutíveis". Prometo que, em algum momento, tentarei atualizar aquela estatística, ampliando-a para todo o campeonato. Mas, correndo o risco de parecer pura e simplesmente um corneteiro, e sabendo que os problemas do time não se resumem a isso, digo: se não fosse Jaílton de zagueiro o campeonato inteiro, com certeza o Flamengo teria agora os pontinhos que estão faltando para, no mínimo, uma classificação tranquila para a Libertadores. Em uma disputa tão equilibrada quanto a deste Brasileiro 2008, ele é um detalhe que está fazendo a diferença.

A explicação para o desastre de ontem prossegue, de maneira ainda óbvia e repetitiva, com a mania de Caio Júnior de arriscar no inesperado, trocando Luizinho por Fierro no intervalo - e foi exatamente por ali, nas costas do meia que não é lateral, que o Goiás fez o gol do empate. Fica a pergunta: por quê? A não ser que tenha havido alguma contusão do lateral que eu não peguei - não ouvi o áudio da transmissão e não encontrei nada sobre isso nas matérias sobre o jogo -, foi uma troca sem qualquer sentido, mais uma improvisação desnecessária que acabou custando caro.


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As últimas esperanças agora residem em uma vitória contra o Atlético-PR, jogando sua permanência na primeira divisão, na Arena da Baixada. Algo que já seria difícil de acreditar com o time completo e fica ainda mais complicado sem Obina, Kléberson e Íbson, todos suspensos. Pra completar, é necessário um improvável tropeço de Cruzeiro ou Palmeiras, ambos jogando em casa contra os fracos times da Portuguesa e do Botafogo. Parece muito difícil que aconteça. Mas como a decisão não vai ser no Maracanã, de repente fica um pouco menos improvável.




30/11/2008 - 17h - Flamengo 3 x 3 Goiás
Maracanã, Rio de Janeiro - RJ
Renda/público: R$ 567.267,00 / 33.392 pag.

Árbitro: Sérgio Carvalho (DF)
Cartões amarelos: Ibson, Kleberson, Fierro, Jaílton, Obina (FLA); Vitor, Fábio Bahia, Rafael Marques, Iarley, Fernando, Adriano Gabiru (GOI).

Gols: Obina, 5'/1ºT (1-0); Juan, 29'/1ºT (2-0); Obina, 35'/1ºT (3-0); Paulo Baier (pênalti), 37'/1ºT (3-1); Ernando, 42'/1ºT (3-2); Thiago Feltri, 19'/2ºT (3-3).

Flamengo: Bruno, Luizinho (Fierro, intervalo), Jaílton, Ronaldo Angelim e Juan; Aírton, Toró (Vandinho, 29'/2ºT), Ibson e Kleberson; Marcelinho Paraíba (Everton, 15'/2ºT) e Obina. Técnico: Caio Júnior.

Goiás: Harley, Ernando, Henrique e Rafael Marques; Vitor, Fernando (Fredson, 40'/2ºT), Fábio Bahia, Paulo Baier e Thiago Feltri; Júlio César (Adriano Gabiru, 20'/2ºT) e Iarley (Alex Terra, 36'/2ºT). Técnico: Hélio dos Anjos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Um post irretocável. Jaílton é o serial killer das faltas; a tática do Caio Jr. é o medo e, como em todo covarde, a coragem qdo surge é suicida. Foi a derradeira vergonha: basta!