Agora é Cuca

O meu preferido seria Paulo Autuori - e até me animei ao ver seu nome, junto aos de Cuca e Tite, na shortlist de Márcio Braga, ontem de manhã. Não sei se efetivamente chegaram a falar com Autuori, no Qatar. É possível que sim, e que não tenha dado pra trazê-lo. Como não deu com Parreira. Como não daria com Muricy, Felipão ou Luxemburgo.

O fato é: não há nomes indiscutíveis sobrando no mercado. Qualquer técnico que fosse contratado, uma enorme parte das pessoas torceria o nariz por um motivo qualquer. E, entre os disponíveis, Cuca não é das piores escolhas.


O que ele já fez por aí

Cuca tem sua fama de bom técnico graças, basicamente, a dois bons trabalhos. O primeiro, no Goiás, em que tirou o time da zona de rebaixamento para levá-lo à melhor campanha do segundo turno do Brasileiro, em 2003; e o outro no Botafogo, onde também fez uma arrancada do tipo em 2006 e levou o limitado time a sonhar com títulos em 2007. No entanto, não ergueu nenhuma taça, o que o deixou marcado como "azarado" - além de ter exposto, em diversos momentos, uma instabilidade emocional pra lá de preocupante nos momentos decisivos. Deus me livre ver no Flamengo cena parecida com o chororô botafoguense após a final da Taça Guanabara deste ano, uma das coisas mais patéticas da história do futebol.

Fora seus problemas de cabeça, ainda tem contra si o desempenho ruim em alguns outros trabalhos - se não tinha mesmo como ser campeão com o material humano que teve em Botafogo e Goiás, talvez não fosse o caso quando esteve no São Paulo, onde deixou com boa imagem mas também não teve conquistas. Fora, claro, os grandes fiascos de 2008, com Santos e Fluminense, que fizeram seu status voltar dez casas no tabuleiro do mercado.

Mas eu vejo qualidades em Cuca. Nos bons trabalhos que fez, você conseguia ver em seus times o efeito dos treinamentos - os jogadores sabem como se mexer em campo, a equipe tem jogadas ensaiadas, enfim. Meu receio com ele, fora chororôs e afins, é uma certa vocação para Professor Pardal, a tendência a improvisações e esquemas revolucionários, coisa com que fiquei traumatizado depois de Caio Júnior. 


Como foi sua primeira passagem no Flamengo

É bom dizer que Cuca pegou o pior elenco do Flamengo que eu já vi. Pra se ter uma idéia, Rodrigo Arroz e Júnior Baiano formavam a zaga titular com frequência. Havia ainda Dimba, Marcos Denner, Adrianinho, China, Geninho e por aí vai. E ele assumiu no meio do Carioca de 2005 após a queda do bizarro Júlio César Leal, a maior aberração que já dirigiu o Flamengo. O seu aproveitamento, no pouco tempo que teve, não foi de todo ruim - em 12 jogos, perdeu 3. Mas duas derrotas foram daquelas doloridas: uma goleada de 4x1 para o Fluminense, na final da Taça Rio, e o 2x0 para o Ceará de Jair Pereira pela Copa do Brasil.

Mas, na época, a grande maioria dos torcedores entendia, olhando o material humano que ele tinha em mãos, que a culpa não era dele. Sua demissão pegou muita gente de surpresa, especialmente pelas circunstâncias. Cuca não caiu por conta dos resultados em campo, e sim por atritos com a diretoria, ainda pré-Kléber Leite, gestão Anderson Barros (que, aliás, é hoje gerente profissional do rebaixado Figueirense), por conta do que via da relação de certos empresários com os dirigentes. Havia também atritos com outros profissionais do clube por seus métodos de trabalho - que incluíam treinos em tempo integral e coisas do gênero, a que ninguém estava acostumado por lá. Cuca, ao ser demitido, saiu chorando da Gávea e dizendo que um dia voltaria. Terá agora sua chance.

Pra relembrar as circunstâncias de sua saída, eis aí um trecho de um texto da época de Alexandre Lalas no blog da FlamengoNet:
Cuca discutiu violentamente com Anderson Barros hoje pela manhã. Motivo: Anderson tinha ficado de mandar buscar no aeroporto, às 10h30, um empresário amigo de Cuca que traria quase de graça um jogador brasileiro que atua no futebol coreano. 12h45 e ninguém do Flamengo tinha aparecido no aeroporto. Cuca entrou na sala de Anderson e falou tudo aquilo que nós morremos de vontade de falar ao palhaço. Esta foi a gota d'água.
Completando com o que mais saiu na época sobre o episódio: "tudo aquilo que nós morremos de vontade" era: "se o empresário dele fosse o Eduardo Uram, isso não acontecia!".  Mas, pra perceber também que Cuca não é mestre em indicar grandes reforços, o tal jogador era o glorioso Jefferson Feijão. Dureza.

A leitura do texto inteiro é interessante pra refrescar a memória de como as coisas eram na Gávea naquela época - acreditem, andou melhorando bastante de lá pra cá.

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu, ao contrário, torci muito para o Autuori não voltar: ainda não me recuperei de sua 1ª e involuntariamente hilariante (pros outros, pra mim foi trágica)passagem pela Gávea.

Saudações rubronegras!

André Monnerat disse...

Já eu tenho saudades do Autuori como técnico do FLamengo.

Em 97, com ele e um elenco MUITO fraco, foi a última vez - antes deste ano - em que deu pra ao menos sonhar com título.

No ano seguinte, rolou boicote de jogadores a ele e acabou caindo. Não acho que os outros tenham achado hilariante a passagem dele não.

Isaac Frederico disse...

Gostei da volta do cuca mas, realmente, a cena do chororô me trouxe muita desconfiança, pois foi algo colosaalmente patético, ridículo mesmo.

andré, vc é amigo do carlos bastos, certo ?

estudamos juntos na uerj (eu e carlos) e eu cheguei a ser colaborador da flamengonet nos primórdios, antes de começarem a ganhar os prêmios do ibest, quando o carlinhos tava na jogada.

abraços !

André Monnerat disse...

Isaac - não, não sou amigo do Carlos Bastos. Sei quem é apenas pelo FlamengoNet, mas só colaborei com o blog mesmo.

Abraço!