Meu pai e o Flamengo

Eu não me lembro de quando "virei Flamengo". Sempre fui - em minhas primeiras lembranças, na pré-escola, eu já estava discutindo com coleguinhas que torciam por outros times. Sempre tive uma camisa do Flamengo no armário - e, por um tempo, também o calção e o meião. E, se foi assim, foi por conta do meu pai. Afilhado de membro da Boca Maldita, meu pai era Flamengo mesmo.

Ele viu o Maracanã ser construído, assistiu lá à Copa de 50. Como moravam perto do estádio, ele e o pai volta e meia resolviam ir ver o Flamengo de última hora. "Vamos, Zé?", dizia meu avô, e lá iam eles a pé, pra geral, porque aí a entrada era mais rápida. Era outro tempo. Meu pai bebeu cerveja de garrafa no Maracanã. Foi com ele, claro, que comecei a ir ao estádio. O primeiro jogo foi em 1985, Flamengo 3 x 0 Bahia, a volta de Zico da Udinese. Em outro jogo, lembro da paciência dele em aguentar eu e meu irmão gritando o nome de um tal Valtinho, reserva que tinha um chute forte e a gente gostava. Na nossa inocência, achávamos que, começando o grito, a galera em volta uma hora ia acompanhar e aí ele entraria.

A partir de um certo momento, meu pai desistiu do Maracanã, pela confusão. Em um Flamengo x Corinthians dos anos 90 (não lembro o ano, mas o Renato Gaúcho ainda jogava no nosso ataque), ele saiu com o dedo quebrado do bolo em volta das bilheterias pra comprar ingresso - e aí, parou de ir. Mas este ano, voltou lá para assistir a Flamengo x Cruzeiro, pois um ingresso estava sobrando e ele foi ver como o estádio estava. No caso, a decepção foi com o futebol, não com o estádio.

Porque o futebol também mudou muito. Ele vivia contando uma conversa que teve uma vez com o Evaristo - ou com o Jair da Rosa Pinto? -, em que o antigo craque dizia que, naquele tempo, eles olhavam pra onde o companheiro estava e passavam a bola para onde ele ia chegar. Hoje, meu pai repetia, era tudo "bola pra Romário" - era a irritação com os lançamentos de qualquer jeito pra dentro da área, que os narradores diziam que eram para o Baixinho (de quem ele não gostava), mas eram, no fundo, bicões pra se livrar da bola. Por isso, até hoje ele recontava a mesma história de uma vitória do Flamengo sobre um time inglês, com dois gols de faltas do Jair da Rosa Pinto, e falava da manchete no dia seguinte no jornal que ele tinha guardado.

Domingo, levei um radinho pro meu pai ouvir ao Flamengo x Vasco no fone de ouvido. Ele não era grande simpatizante do Bobina (como ele chamava). Mas, afinal, ele acabou garantindo a vitória, junto com o zagueirão lá do Vasco. Ainda bem.

3 comentários:

Jogo Aberto disse...

hoje o flamengo tem que ganhar pra ficar tranquilo na tabela. e dar mais confiança na torcida.

Anônimo disse...

Ele deve ter gostado muito do Obina ontem - como todos os rubronegros gostamos. Saudações!

Anônimo disse...

Monnerat,

não existe muita coisa que possa ser dita em uma hora como essa, então fique com minha torcida para que a tristeza dê espaço logo apenas para as boas lembranças. Meus sentimentos.