A saída de Muricy e o circo armado no Fluminense

Enquanto o Fluminense depender de Celso Barros como clubes dependiam de bicheiros nos anos 80, a situação por lá não vai se resolver


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É óbvio que a estrutura ruim do Fluminense pesou para a saída de Muricy Ramalho. Campo duro machucando jogador, falta de academia, ratos no vestiário, tudo isso é dose. Mas parece também muito claro que não foi só isso. Segundo ele mesmo, há questões de relacionamento interno que pesaram em sua saída. E aí entra a questão da relação entre Unimed e Fluminense.

Muricy diz que, com a mudança da diretoria, mudaram também pessoas que trabalhavam em torno do time e isso não foi bom. Não blindaram o elenco, informações vazavam e isso prejudicou seu trabalho. Ele afirma ainda adorar Celso Barros. Das Laranjeiras, surgem versões um tanto diferentes, falando de conflitos dele com o patrocinador (pelas teorias da conspiração, Muricy está agora elogiando Barros porque é parte do acordo: se não limpasse a barra do patrocinador, não seria liberado sem pagamento de multa).

Por uma versão ou por outra (acredito bem mais na segunda), fato é que Muricy tinha dois patrões distintos, com interesses nem sempre iguais: o Fluminense, representado por sua diretoria, e a Unimed. É algo com que todo mundo que trabalha lá dentro tem que lidar e que, volta e meia, vai dar problema.

Reparem: quando Muricy ficou, quem apareceu dando coletiva pelo Fluminense foi Celso Barros, triunfante pela "força da instituição"; agora, com Muricy saindo em meio a uma situação vexatória para o clube, é o presidente do clube que tem que se virar em frente às câmeras. Sendo que, nas duas situações, quem decidiu a parada foi mesmo a Unimed. É isso: a multa prevista no contrato, caso Muricy rompesse seu compromisso, era com a Unimed, e não com o clube para o qual, em tese, trabalhava como treinador. É pra achar normal?

Tem torcedor que acha maneiro e faz até bandeira pra ele. Fato é que Celso Barros, hoje, exerce no Fluminense um papel semelhante ao que Emil Pinheiro e Castor de Andrade exerceram no Botafogo e no Bangu. Ele faz o que bem entender - ou o que achar que é do interesse de sua empresa.

Não é interesse, por exemplo, colocar um centavo que seja no campo das Laranjeiras, na academia do clube ou na desratização dos vestiários. Para isso, Peter Siemsen vai ter que se virar sozinho.



Política interna x patrocinador, a luta escancarada

Alcides Antunes, ex-Vice de Futebol demitido na véspera da saída de Muricy, seguiu à frente do departamento após as eleições tricolores por imposição da Unimed. O grupo político que sustentou a candidatura de Peter, o FluSócio, sempre deixou público que era contra sua permanência - o confronto direto entre as partes fica bem claro na coletiva que Alcides deu hoje. No meio do caminho, houve ainda um episódio bizarro: chegou a ser anunciada a volta de Tote Menezes, um ex-diretor muito mal visto com a torcida, ao Departamento de Futebol; Alcides Antunes teria confirmado a informação a rádios, mas a FluSócio publicou em seu blog imediatamente texto negando veemente qualquer possibilidade disso acontecer. No final do dia, tudo foi negado, não passava de boato. Mais tarde, correu a informação de que era uma imposição de Celso Barros, mas que Peter Siemsen, pressionado pela política interna, não deixou que se concretizasse. Ninguém nunca explicou direito a história.

Está com cara de que, tão cedo, Peter Siemsen já não tem um relacionamento tão harmônico assim com o patrocinador - embora, na campanha, o apoio de um ao outro tenha sido total. Não sei no que isso pode dar para o Fluminense daqui pra frente.



Muricy tem motivos justos, mas poderia ter agido diferente

No meio de toda esta zona, e ainda por cima com gramado duro, academia faltando e ratos no vestiário, não é de se espantar que Muricy tenha achado que não dava pra continuar. Suas explicações públicas podem estar incompletas, mas motivos não faltam.

O problema é todo aquele discurso de manter compromisso, "ensinei isso a meus filhos" etc. e tal. Muricy sai do Fluminense no meio da Libertadores em situação mais do que complicada. Depois de tudo o que falou no ano passado, ficou parecendo no mínimo incoerente. Além disso, querendo reafirmar a imagem de que não interromperia seu contrato sem razões muito fortes, Muricy está esculhambando o lugar onde trabalhava a torto e a direito na imprensa, de uma maneira que soaria muito esquisita em qualquer mercado.

Fica ainda a especulação do quanto uma possível proposta do Santos possa ter pesado. Normalmente não seria nada demais ele decidir, em um ambiente desfavorável em seu emprego atual, ir para outro com melhores condições de trabalho. O problema é mesmo o discurso anterior de apego aos compromissos. Ele diz, de qualquer forma, que não é o caso; que não tem proposta nenhuma e que vai parar por pelo menos 30 dias.

Vamos ver. Pelas minhas contas, dá tempo dele assumir o Santos antes do último jogo da primeira fase da Libertadores.



Lado bom para o Fluminense?

Pro Fluminense, no fim, talvez o choque tenha algum bom efeito no longo prazo. Por conta do tanto que o clube está sendo espezinhado na imprensa por sua estrutura ridícula, pode ser que finalmente se mexam de verdade pra dar um jeito e sinalizar a todos que a coisa está mudando. No ano passado, o efeito no Flamengo da saída de Zico foi esse. Tá certo que as obras definitivas no Ninho do Urubu até hoje não começaram pra valer, mas estamos acreditando que logo isso irá acontecer.



Kajuru "sob controle"

Pra completar a chacota, ainda surgiu Kajuru divulgando uma conversa em off com Renato Gaúcho, dizendo que havia chance dele assumir o lugar de Muricy. O treinador do Grêmio, depois, disse que passou um trote. O pior de tudo é que, com Celso Barros por lá, um convite ao Renato pareceu mesmo algo verossímil.

2 comentários:

Freire disse...

Mais uma aula de (anti)jornalismo do Kajuru. Muricy não é o único que se considera sujeito de conduta exemplar a pisar na bola.

Luis disse...

Como toda a franqueza, dane-se o Flu. Mas 2 coisas são claras: Muricy é igual em atitude a um montão de treinadores e a imprensa sabe tanto do que acontece quanto eu (ou seja, nada).