Huachipato fez com o Grêmio o que La U fez com outros brasileiros antes

A evolução econômica do futebol brasileiro em relação aos vizinhos é enorme. Mas, em outros pontos, há o que aprender com eles.



Se fosse eu o diretor das categorias de base de qualquer clube brasileiro, passaria para meus treinadores, e faria eles mostrarem aos seus jogadores, o VT do jogo de ontem entre Grêmio e Huachipato, pela Libertadores.

Já faz algum tempo que notamos que a diferença técnica entre os clubes brasileiros e os demais sul-americanos está aumentando. É cada vez mais comum o campeão do continente ser um clube daqui e é cada vez mais raro não termos ao menos um disputando a final, a cada ano. É o poder do dinheiro; se já costumávamos produzir com mais frequência bons jogadores, hoje as mudanças no mercado têm feito com que seja possível segurá-los aqui por mais tempo e, por vezes, até trazê-los de volta da Europa. O mesmo não acontece nos países vizinhos, e ver o que tem acontecido especialmente com os argentinos, lidando com a crise econômica sem fim deles, é especialmente triste.

Mas é curioso ver a frequência com que assisto, a cada ano, times em óbvia desvantagem técnica conseguirem equilibrar partidas - ou até mesmo serem superiores - contra brasileiros simplesmente pela diferença de desenvolvimento tático. Claro, não é sempre; muitos dos peruanos, bolivianos e uruguaios que enfrentamos seguem jogando naquelas fórmulas de retranca-contra-ataque-chuveirinho. Mas não são tão poucos os que têm saído disso e, quando acontece, a situação fica constrangedora para os treinadores nacionais.

Confesso que, na verdade, não peguei o jogo completo ontem. Mas, a caminho de casa, escutando no rádio um programa esportivo, ouvia a descrição do que se passava na Arena do Grêmio: "o time de Luxemburgo não vê a cor da bola. Os chilenos trocam passes de pé em pé, marcam firme no campo adversário e só resta ao Grêmio sair no chutão". A narração e a supresa não pareceram tão diferentes das primeiras vitórias de La U de Jorge Sampaoli contra times daqui. A impressão é superficial, mas talvez o futebol do Chile, influenciado por bons resultados de El Loco Bielsa à frente da Seleção local, esteja vivendo uma evolução interessante em seus treinadores. Afinal, ninguém nunca tinha ouvido falar do tal Huachipato, mas é de lá que eles vieram e, pelo visto, jogam - e têm sucesso, ou não seriam campeões locais - com filosofia semelhante.

Acho que não existe a "melhor" maneira de jogar futebol. Dá pra vencer, e pra apresentar um jogo agradável, de várias formas (embora às vezes, pelos modismos que assolam os técnicos, pareça que não). Mas, por aqui, às vezes dá a impressão de que é complicado tentar colocar certas coisas em prática. Muito por limitações dos treinadores, embora um ou outro até venha tentando de alguma forma absorver ao menos os conceitos básicos de algumas equipes bem sucedidas de fora. Mas também muito pela formação dos atletas. Jogadores com determinadas características (técnicas, táticas, comportamentais) não têm aparecido. E meu palpite é que isso é muito por que não há ninguém na base trabalhando nisso, nem se dando conta dessa necessidade.

Não acho que o Huachipato seja nenhum grande modelo de time de futebol. Mas ver como eles, desconhecidos, provavelmente com uma folha salarial menor do que a da dupla de ataque gremista, conseguiram dominar um dos favoritos ao título em sua casa pode ser uma lição interessante pra muita gente.

Um comentário:

A.C. Naylor disse...

Nada a acrescentar, André. Disse tudo aquilo que eu venho pensando já há algum tempo sobre o atraso dos nossos técnicos. Tenho muita vontade de ver um cara como o Sampaoli, ou mesmo esse técnico do Huachipato, trabalhando no Brasil. Tenho a impressão de que seria uma chacoalhada e tanto nos nossos treineiros acostumados à inexplicável reserva de mercado de mercado ainda existente por aqui para técnicos nacionais.