Adriano, uma questão de fé

As notícias sobre o cada vez mais próximo retorno do Imperador ao Flamengo chegam a ofuscar a vitória no clássico contra o Vasco.



Não assisti ontem à vitória sobre o Vasco, mais um passo na trajetória de recuperação do Flamengo rumo a um fim de temporada tranquilo e um 2013 mais promissor. Mesmo sem ter visto a partida, pelos comentários que vejo por aí dá pra perceber que muitos festejam o resultado e a recente fase do time como resultados rápidos de um "trabalho sério". Dorival Júnior seria exemplo de treinador dedicado, que faz do esforço de todos nos treinos a fórmula para conseguir um futebol melhor dentro de campo. E o time, sem nenhum reforço de peso e recheado de jovens recém-promovidos da base, estaria correspondendo graças à  união, humildade e suor de todos. A soma destes ingredientes parece mesmo uma boa receita.

Bacana. E aí estão prestes a contratar Adriano.

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O contrato não foi assinado ainda, mas o retorno do Imperador parece cada vez mais certo. Zinho agora desconversa, mas tanto ele quanto a presidente já deram entrevistas falando que contam com o jogador e acreditam que o Flamengo possa contribuir com sua recuperação. Dorival Júnior também só deu declarações de apoio à ideia.

Na boa: dá tempo de mudarem de opinião?

Claro, futebol é uma caixinha de surpresas. E a vida já nos proporcionou reviravoltas insuspeitas para muitas pessoas. Então, pode ser que eu queime minha língua.

Mas não é possível que alguém lá dentro consiga sustentar com argumentos minimamente racionais a contratação de Adriano. Me impressiona que Patrícia Amorim, que viveu o que Adriano aprontou com o Flamengo no início de 2010, queira repetir a experiência. Naquele ano, o centroavante demorou a estrear porque comprometia a recuperação de uma queimadura no pé jogando peladas de futebol de areia; pediu para não participar de jogos oficiais - inclusive de Libertadores - por "problemas pessoais" e foi atendido; sumiu do clube sem aviso por vários dias e faltou um sem-número de treinamentos em muitas oportunidades, inclusive sendo flagrado passeando com a namorada pela praia de Ipanema no horário de um deles; deixou de comemorar gols em protesto por se sentir "injustiçado pela torcida"; e, antes de seu contrato terminar, decidido a voltar para a Itália mesmo com proposta de renovação, simplesmente parou de aparecer no trabalho e deixou de jogar duas partidas pelo Campeonato Brasileiro porque não estava a fim.

Reparem que, no pequeno resumo da trajetória de Adriano enquanto jogador do Flamengo naquele ano, não incluí nada sobre sua vida pessoal, mas apenas o que dizia respeito aos seus compromissos com quem pagava seu salário. De lá pra cá, ele passou pela Roma sem marcar um único gol em jogos oficiais; voltou ao Corinthians, onde ficou quase o tempo todo no banco, acima do peso, saindo demitido por justa causa depois de deixar de cumprir suas obrigações profissionais; e, depois de publicadas notícias sobre uma porção de faltas às sessões de fisioterapia que serviriam para recuperá-lo fisicamente e provar a todos que realmente quer se dedicar a um bom retorno, resolveu interromper seu tratamento no Flamengo para evitar o que chamou de "patrulha excessiva".

Fica a pergunta: onde, no meio disso tudo, está o que leva a diretoria do Flamengo a achar que contratá-lo pode ser uma boa ideia?

Ah, mas "um Adriano em forma e a fim de jogar sempre vai fazer a diferença". Então tá.

Já que parece que não tem jeito e ele vai mesmo voltar, tomara que eu esteja completamente enganado. Mas não boto a menor fé. E hoje me parece que acreditar na recuperação imperial é algo que não tem a menor relação com qualquer aspecto racional. Se resume a isso mesmo: fé.

9 comentários:

Unknown disse...

E bota FÉ nisso...

Quanto ao time e Dorival, faltam poucas coisas para o técnico tirar o máximo que dá deste elenco: substituir URGENTEMENTE o pereba, digo, Negueba pela Adryan.

Nada, nada explica um CANELEIRO como o Negueba chegar a profissional no Flamengo e pior ainda, chega a TITULAR do Flamengo.

De resto o time realmente está bem organizado e o que dá para fazer é isso aí.

Apenas vamos conter a nossa euforia porque ganhamos do Náutico, do Figueirense e do time de idosos do Vasco. Ainda assim tomando sufoco no primeiro tempo.

Lembro que perdemos para o FRAQUÍSSIMO Palmeiras.

Eu continuo "contando até 42"

Brutozzi disse...

André Monnerat,

Concordo absolutamente contigo. Não há argumento racional que leve a crer que Adriano seja recuperável para o futebol profissional.

Mas lembro que, há poucos meses, estávamos falando o mesmo de Ronaldinho Gaúcho, e olha só o que está acontecendo no Atlético.

Cheguei a conclusão que a atitude do jogador tem muito mais a ver com a disciplina imposta pelo clube do que um suposto compromisso profissional do jogador.

Portanto, vejo como muito improvável um ressurgimento do Adriano, mas não pelo que ele é ou deixa de ser, mas sim pela cultura interna do Flamengo na gestão de equipes de trabalho.

sds
Bruno Tozzi

André Monnerat disse...

Bruno, eu acho que vale esperar um pouquinho mais pra ter opinião pra valer sobre Ronaldinho no Atlético.

Eu tinha visto alguns poucos jogos dele lá. MUITO coadjuvante, o tal do Bernard aparecia bem melhor que ele. Mas vi jogar muito bem contra o Vasco, boa partida mesmo. Por enquanto, tenho a impressão de que o time como um todo está bem e isso está ajudando na imagem dele por lá.

Eduardo H. Costa disse...

Eu não lembro do esquema tático daquele ano, mas o Love e o AAdriano se entendiam no ataque. Fora de campo era aquela caçachada...

Brutozzi disse...

André,
Moro em BH e acompanho de perto.

Quanto ao protagonismo dele em campo, é por aí mesmo: uma boa partida aqui, uma regular ali, sem ser um destaque absoluto, apesar de parecer um jogador mais concentrado taticamente. Ontem contra o Botafogo jogou muito bem.

Mas aqui me refiro ao comportamento fora de campo. Não ouvi até o momento qualquer rumor de noitadas, bebedeiras, problemas em concentração ou qualquer coisa do gênero.

Outra coisa que me salta aos olhos: parou de fazer faltas grosseiras, não reclama acintosamente do juiz e nem toma cartão amarelo bobo, com suspensões "suspeitas".

Flávio disse...

Todos nós sabemos o que vai acontecer, infelizemente. O cara não vai jogar nada, o tal contrato por produtividade é uma balela, sabemos disso e ele vai ficar lá, com os mesmos problemas de sempre, atrapalhando o time dentro do campo e "unindo" o grupo fora do campo ao levar os jogadores (muitos jovens) para festas, baladas e afins. O Dorival - que NÃO é paciente - vai ficar pilhado com o amadorismo da diretoria e do próprio Zinho e vai pedir o boné antes do fim do ano e vamos ficar assim mesmo, novamente um clube refém de um jogador. Que saco isso... pensei que pelo menos isso tinha acabado no Flamengo com a experiência péssima da PA e da diretoria com o AAdriano em 2010 (e falemos a verdade no fim de 2009 também) mas a "torcida" quer e a PA vai fazer de tudo para agradar a "torcida", o "maior patrimônio do Flamengo". Estava voltando a acompanhar o time com a chegada do Dorival (o melhor técnico que tivemos em MUITO tempo, incluo o Andrade nisso aí) mas agora com AAdriano e seus amigos da Vila Cruzeira "pacificada", estou fora de novo, volto quando ele, PA e afins sumirem do meu Flamengo! Abraços"

Marcos Monnerat disse...

Fora todas essas coisas aí já comentadas sobre o Adriano, devemos lembrar que ele é o terceiro centro-avante de peso (com todos os sentidos que se possa imaginar) do elenco... Isso sem contar o Deivid como centro-avante, posição para a qual ele foi contratado, mas que não é a original dele.

Enquanto isso nosso meio campo continua com os super-hiper-mega-giga-tera criativos Íbson e Renato na armação das jogadas.

Estamos bem hein...

Pedro Concy disse...

A Patricia precisa de um fato novo para dar suporte a suas duas eleições este ano.
Sua imagem tá desgastada e os resultados do futebol em nada contribuem para melhorá-la.
Adriano é uma aposta que, se der certo, pode alavancá-la para a vitôria. Se der errado, "pelo menos tentamos".

Em tempo, nao acredito na mudança de Adriano.

Eduardo disse...

Concordo com o que o Pedro disse.