O que diz o balanço do Flamengo de 2011

Saiu ontem no site do clube a prestação de contas do segundo ano de mandato de Patrícia Amorim.


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Finalmente, saiu o balanço 2011 do Flamengo. Sua discussão nos conselhos do clube ainda vai demorar - a reunião do Conselho Deliberativo para aprovar as contas de 2010 ainda vai acontecer... -, mas já é possível dar uma olhada na prestação de contas feita pela diretoria.

Os balanços dos grandes clubes brasileiros este ano estão todos impactados pelo novo contrato com a Globo. A questão é o tratamento que está sendo dado ao dinheiro novo por cada clube; há os que lançaram as luvas do contrato como dinheiro de 2011 mesmo e há os que o contabilizaram como adiantamento - e a maneira como isso aparece faz diferença na hora de olharmos no papel se houve déficit ou superávit no ano e até mesmo no tamanho da dívida.

Mas o pior é que, na verdade, o nível de clareza com que isso - e muitas outras coisas - é colocado no papel é muito pequeno, tanto no Flamengo quanto nos outros, e muitas vezes fica complicado entender qual é a situação real. Seria obrigação da diretoria fazer uma apresentação mais clara de seu trabalho para compreensão ao menos dos sócios, mas até hoje isso não aconteceu - nem com Patrícia Amorim, nem com seus antecessores. Um dia isso precisa mudar.

É muito difícil, portanto, falar com propriedade sobre o balanço do Flamengo sem mais informações e sem a ajuda de gente mais especialista do que eu, que tenho algum conhecimento sobre o tema mas não o vivo no dia-a-dia. Ainda espero poder falar sobre isso de forma mais completa, mas adianto por aqui um tanto sobre o tema.


Receitas e despesas


- A receita do Flamengo aumentou bastante. Mas isso aconteceu basicamente apenas graças ao dinheiro da TV, que saltou de R$44 milhões em 2010 para R$94 milhões em 2011. É um aumento de R$50 milhões - ou seja, quase tudo dos R$56 milhões de crescimento total de receita que o Flamengo teve. O resto do crescimento veio de venda de jogadores (foram R$5,3 milhões arrecadados desta forma, muito provavelmente cedendo parcelas de mais de um jogador do elenco ou da base), royalties e licenciamentos (quase R$5 milhões a mais que no ano anterior) e, em menor escala, do aumento das receitas com mensalidades dos sócios (R$9,5 milhões, contra R$7 milhões de 2010) - além de "outras entradas" não especificadas.

Fora isso, as outras principais fontes de receita diminuíram: houve queda tanto em bilheteria quanto em patrocínio do futebol e até mesmo a entrada de dinheiro da Olympikus foi menor, provavelmente graças a adiantamentos anteriores. Pelo que estamos vendo deste ano, não há perspectiva de crescimento em nenhuma delas e mesmo o dinheiro da TV pode diminuir, pois é possível que as luvas do contrato novo tenham sido contabilizadas como receita de 2011 e este é um pagamento que não acontecerá este ano. Some isso ao enorme aumento salarial de Ronaldinho e entendemos por que o clube está com tanta dificuldade em investir no elenco ou mesmo manter seus compromissos em dia.

- As despesas, por outro lado, cresceram em ritmo menor que as receitas - foram R$30 milhões a mais. Desta vez, o crescimento não foi na sede e nos esportes olímpicos, que até gastaram R$10 milhões a menos que no ano anterior (mas ainda geraram um déficit de R$16 milhões - menor que os R$27 milhões de 2010, mas ainda considerável), e sim no futebol. Foram R$40 milhões a mais com o carro-chefe do clube - R$16 milhões em salários e R$24 milhões em "despesas gerais" não muito fáceis de se deduzir.

No fim, esta diferença entre o crescimento das receitas e das despesas fez com que o resultado operacional fosse positivo em R$32,6 milhões (em 2010 havia sido em R$9 milhões - melhorou bem). Porém, as com as despesas financeiras e contingências, o Flamengo fechou o ano em déficit de R$12,4 milhões. Ainda não está bom, mas foi melhor que 2010 (o resultado havia sido negativo em R$21,7 milhões).



Dívida

- Houve um enorme crescimento no passivo, mas ele está impactado pelo novo contrato com a Globo de forma não muito simples de compreender. Lendo o parecer dos auditores independentes, fica mais claro que o valor do contrato está lançado como ativo, tendo uma contrapartida no passivo. Há uma diferença nos valores de um lado e de outro que pode sugerir que o Flamengo já tenha pego um adiantamento, mas o entendimento disso é um tanto complexo.

Excluindo este tipo de coisa, a dívida de curto prazo parece ter crescido em cerca de R$42,7 milhões, complicando um tanto mais a situação do clube. Aumentou o passivo em impostos e contribuições sociais, empréstimos, obrigações trabalhistas e contas a pagar (o que inclui mais de R$10 milhões de luvas e direitos de imagem). A dívida a ser paga até o final de 2012 ainda é maior que o total das receitas anuais rubro-negras, o que sem dúvida obrigará a diretoria a pegar novos empréstimos e adiantar receitas em grande escala para conseguir sobreviver.

- O Flamengo passou a dever R$10 milhões a mais em empréstimos bancários, num total de R$53,7 milhões. Destes, R$40,7 milhões são com o BMG, o que indica que deveremos ver a marca laranja do banco no uniforme rubro-negro por muito tempo ainda.

- Ainda aparece no balanço a dívida de IPTU do edifício do Morro da Viúva. Com o contrato firmado com Eike Batista, esta dívida terá anistia e, tudo dando certo, deve sumir do balanço no ano que vem.


Patrimônio

- No final de 2011, a diretoria contratou uma empresa para fazer a reavaliação do valor dos imóveis do clube - sede da Gávea, Ninho do Urubu, Morro da Viúva, mansão de São Conrado e imóvel na praia do Flamengo. É provável que use os novos números para falar da valorização que conseguiu no patrimônio do clube com seus investimentos, e este é um mérito realmente inegável: a sede da Gávea está melhor, começou-se a dar uma solução para o Morro da Viúva e o time hoje pode treinar em seu Centro de Treinamento. Porém, boa parte da atualização de valores se deve simplesmente ao fato de que a avaliação que era usada até 2010 era antiga e muita coisa mudou de lá pra cá.

Fato é que, por conta desta reavaliação (e o parecer dos auditores independentes fala que faltaram documentos sobre ela, assim como sobre outros assuntos - infelizmente, algo que acontece todo ano com os balanços do clube), o patrimônio do Flamengo passou a valer no balanço R$229 milhões a mais. Assim, se antes dizia-se que o Flamengo tinha um "passivo a descoberto" (ou seja: mesmo que vendesse tudo o que tinha, ainda não conseguiria dar conta de seu passivo) superior a R$100 milhões, agora o clube aparece com um patrimônio líquido positivo em R$146 milhões. Um número muito mais bonito de se apresentar, mas que não quer dizer que a situação realmente tenha melhorado nesta proporção.

2 comentários:

Luis disse...

Os vários desatres em campo e principalmente fora de campo ao longo das últimas 2 ou 3 décadas estão refletidos nas contas do Clube ......

Eduardo H. Costa disse...

Luis, dá um livro e dos bons em como não se deve proceder na administração de um clube. Temos no mínimo 20 anos de material para tal livro.

E o Levy, já comentou o balanço? To esperando...