O Flamengo não se preparou como devia para o jogo do ano

Que Luxemburgo e os jogadores consigam fazer o seu melhor em uma partida que pode mudar os rumos de toda a temporada rubro-negra.



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E hoje é dia. Depois de por quase um mês o torcedor ficar acompanhando novelas intermináveis, boatos diversos e notícias ruins dos mais diversos tipos, finalmente o time principal do Flamengo entra em campo em um jogo oficial. E não é qualquer jogo: é daqueles de ganhar status de jogo do ano. Ser eliminado pelo Real Potosí ainda na pré-Libertadores comprometeria a temporada do Flamengo de forma devastadora em diversos sentidos. E isso começa a ser definido hoje, na altitude de Potosí, que vimos em 2007 que não é brincadeira.

Mas ao menos para enfrentar os 4 mil metros de altitude a preparação do Flamengo parece ter sido boa. Pode ser que alguns que só chegaram mais em cima da hora à Bolívia ainda acabem entrando em campo hoje, mas quase todos estão já há um tempo razoável por lá, o que deve diminuir bem os efeitos da maior arma adversária. Além disso, ao contrário do que aconteceu no ano passado, quando foi enfrentar a Universidad do Chile pela Copa Sul-Americana sem conhecer nada do adversário e só acordou quando o caminhão já tinha passado por cima, desta vez parece ter sido feito um trabalho bem mais sério de observação do oponente de hoje à noite.

Porém, em todo o resto, o Flamengo parece ter feito todo o esforço possível para complicar sua vida neste confronto. A concentração de todos esteve voltada para dívidas, jogador ameaçando não jogar, jogador largando o time em véspera de viagem, técnico e diretoria batendo boca pela imprensa e por aí vai. O time começou ainda os trabalhos da temporada sem saber se contaria com um dos seus principais jogadores, que acabou efetivamente indo embora. Ou seja: o foco esteve longe de Potosí por boa parte do tempo.

Mais: Luxemburgo não parece ter começado o ano tendo uma ideia clara sobre o time que gostaria de colocar em campo hoje. A cada coletivo ou amistoso, ele foi mudando a formação e a escalação, o que obviamente prejudica o conjunto. No teste mais difícil, contra o Corinthians, entrou de titular Itamar, que acabou não sendo nem inscrito na competição por não ter tido ainda sua situação regularizada com a CBF. E sempre que o público pôde ver o desempenho dos supostos titulares, o desempenho foi sofrível. Tecnicamente, dentro do campo, a preparação não parece ter sido a melhor possível.

Não conheço nada do Real Potosí. Dizem que é um time fraco e sua folha salarial inteira é em torno de um décimo do salário de apenas um dos maiores astros do Flamengo. Ainda assim, não dá pra achar que vai ser fácil: a altitude - por mais que seus efeitos sejam diminuídos pelo período de adaptação - joga a favor deles, que entrarão em campo para encarar a partida de suas vidas. E mesmo uma vitória magra dos bolivianos vai complicar muito o jogo de volta para o Flamengo, um time que passou 2011 inteiro tendo imensa dificuldade quando precisou tomar a iniciativa de atacar, mesmo contra adversários muito frágeis.

Embora ninguém tenha certeza de nada, a escalação mais provável do Flamengo hoje tem um meio-campo muito defensivo, com Aírton, Willians, Luiz Antônio e Renato. Só posso imaginar que a intenção de Luxemburgo é jogar mesmo contando com um empate, para levar a decisão para o Engenhão. E isso não poderia mesmo ser considerado um mau resultado. Mas será muito perigoso se o time recuar demais e deixar que o Real mantenha a bola sempre perto da área rubro-negra. A defesa mostrou durante o ano passado inteiro uma grande fragilidade no jogo aéreo e a zaga que vai entrar em campo não passa nenhuma segurança - na verdade, acho que é das piores duplas que vi no Flamengo em minha vida. Se os bolivianos souberem apenas jogar bolas altas na área, isso já pode ser o bastante pra causar muito problema.

Durante a pré-temporada, Luxemburgo e os jogadores deram declarações de que buscariam aprender a valorizar o máximo possível a posse de bola. É mesmo o melhor caminho, ainda que a ideia seja apenas se contentar com um empate. Mantendo a bola, o desgaste será menor na marcação - o que tem ainda mais importância a 4 mil metros de altitude -, o time correrá menos riscos atrás e a torcida adversária vai esfriar. Tentando ser otimista, mesmo com uma escalação que não indica nem criatividade no meio, nem velocidade para os contra-ataques, dá pra imaginar um golzinho decisivo saindo num chute de fora de Renato (que, nesta formação, deve poder jogar mais próximo da área adversária) ou de um chuveirinho de Ronaldinho.

Mas é provável que o que conte mais seja a concentração de todos. Se estiveram com a cabeça em outro lugar até agora, que consigam se concentrar no que devem ao menos durante estes 90 minutos.

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É engraçado como se anunciam "Dias D" para terminarem as novelas do Flamengo, eles chegam e nada acontece. É o caso da permanência de Ronaldinho Gaúcho.

Prazos finais foram dados algumas vezes para que ele recebesse o que lhe devem (e ele tem todo o direito de cobrar e ficar insatisfeito com a situação) e ele confirmasse que segue no clube pela temporada. O último, que eu me lembre, tinha sido quarta-feira passada.

Pois não aconteceu até agora. E ele está lá, na Bolívia - ao que parece, pronto para entrar em campo.

Será importante que, além de entrar em campo, ele resolva jogar.

4 comentários:

JLD disse...

Os prazos do Assis são pra inglês ver, André. Fato é que ele treina menos que o restante, não joga bem e vai acumulando direito de receber 750K excedentes a cada mês que passa. Como não deve ter nenhuma proposta concreta, faz algumas ameaças e ponto. Insisto que, enquanto não receber, vai enganar em campo.

Eduardo H. Costa disse...

Beleza, aceito o empate. Só acho estranho essa parte deles falarem em aprender a valorizar a posse. Tão de sacanagem? Já fizeram isso o maior parte do Brasileirão do ano passado. Isso não é novidade.

O problema era a falta de ligação entre meio e o ataque por conta daquela escalação covarde justamente do meio de campo.

Enfim, quero ver as novas mudanças mesmo que para segurar o empate.

Por mim, nessa altitude toda, tá autorizado chute do meio da rua. Meia força já sai uns foguetes.

Gabriel Folha disse...

Não aceito empate, acho o fim do mundo o Flamengo jogar com o Potosí e pensar em empatar.

O fim do mundo!!!!

Por pensar assim a seleção brasileira passou a perder constantemente para Peru, Venezuela, Bolivia e que tais.

Continua existindo muito bobo no futebol, a sorte deles é que tem gente mais boba que acha que não existe mais.

Empate como circunstância de jogo, Ok. Empate como objetivo contra um time que vale 1 /10 do salário de UM jogador nosso é o fim do mundo!!!

Marcelo Constantino disse...

Cara, eu acho desesperador toda vez que leio essa coisa de o Flamengo assumir integralmente o salário do R10.

É receita de falência, um mal de magnitude talvez maior até que a gestão do ESSilva.

O pior é que a Traffic rapidamente sacou que não vale bancar tudo isso (além de possivelmente estar caindo na real de que ela, Traffic, não é tão eficiente quanto apregoa), e o Flamengo vai na direção contrária.