O balanço do Vasco mostra que as coisas sempre podem ser piores

Se o balanço patrimonial do Flamengo de 2010 já é assustador, o do Vasco é coisa de maluco

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Tratei do balanço patrimonial do Flamengo de 2010 em quatro posts aqui no blog, logo depois que ele foi publicado na calada da noite no site do clube, em seu horário de menor acesso, sem qualquer divulgação e no limite final do prazo legal. Outros blogs de rubro-negros também já trataram dos números pra lá de preocupantes e da falta de transparência das suas explicações - como FlamengoNet (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), Ninho da Nação e Cronista Esportivo. Aos poucos, espaços de maior audiência também começaram a tratar do assunto, como o jornal Extra e o Olhar Crônico Esportivo, do GloboEsporte.com. Faltam ainda as explicações devidas pela diretoria , tanto à torcida quanto aos sócios. Por enquanto, parece que o maior interesse mesmo é deixar o assunto sob uma névoa de dúvidas. É triste e distante do Flamengo mais moderno, austero, profissional e transparente que antes era prometido.

Mas acreditem: sempre pode ser pior. E pra ilustrar, vou falar por aqui rapidamente do balanço 2010 do Vasco, também disponível apenas para os muito sagazes na arte de buscar conteúdo no site oficial do clube.


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O Flamengo teve um crescimento de receita relativamente pequeno, quando lembramos que o time vinha de um título brasileiro e de um ano em que o contrato com a Olympikus começou a valer apenas em sua metade e em que não houve patrocínio de camisa por muitos meses. Pois acreditem: apesar do Vasco ter disputado a série B em 2009 e a A em 2010, as receitas diminuíram de um ano pro outro - de R$84,8 milhões para R$83,5 milhões.

E por que esta receita caiu? É impossível dizer. Se o balanço do Flamengo já é pobre em explicações, o do Vasco leva isso ao limite: só vemos lá "receitas do futebol profissional", com uma queda de R$79 milhões para R$74 milhões - mas não há nenhuma discriminação sobre quanto foi de bilheteria, quanto foi da TV, quanto foi de patrocínios... Nada. O mesmo vale para as despesas - houve um crescimento de R$57,6 milhões para R$68,3 milhões nas "receitas do futebol profissional", e não há em nenhum lugar a explicação de quanto disso é a folha de pagamento, por exemplo.

Ou seja: em termos de transparência, o balanço do Flamengo é muito ruim, mas o do Vasco é bastante pior (e aí surgem denúncias como a de favorecimento a uma agência de viagens do genro de Roberto Dinamite). E em termos de resultados financeiros apresentados, também: a receita caiu, as despesas aumentaram e houve um déficit de mais de R$17 milhões. A dívida de curto prazo aumentou em R$37 milhões de um ano pro outro e chegou a incríveis R$171 milhões - mais que o dobro do que a receita total do clube no ano, mas ainda menos que os R$224 milhões de dívidas que o Flamengo tem que pagar até o final de 2011 (porém, com receitas bem maiores).

A dívida total do Vasco é de R$487,3 milhões. Se vendesse tudo o que tem, ainda ficaria devendo R$264,5 milhões.


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É interessante, depois de toda a discussão em torno da renovação dos contratos de transmissão do Brasileiro, ver algumas das dívidas que o Vasco tem lançadas em seu balanço. No passivo circulante (as dívidas de curto prazo), lá estão R$18,5 milhões com o Clube dos Treze, R$4 milhões com a Globo Comunicação Participação, R$1,2 milhão com a TV Globo e R$4 milhões com a Globosat. No não circulante (dívidas a serem pagas a partir de 2012), vemos ainda R$5 milhoes com o Clube dos Treze e mais incríveis R$55,4 milhões com a Rede Globo.

Ou seja: a grosso modo, eram R$23,5 milhões de dívidas com o Clube dos Treze contra R$62,2 milhões de dívidas com a Globo. Não tem como uma diretoria negociar pensando apenas nas melhores condições comerciais para o clube estando tão envolvida assim em dívidas com as partes interessadas.

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Mas vejam o poder de uma boa assessoria de imprensa: com tudo isso, o Vasco ainda conseguiu emplacar uma pauta positiva sobre seu balanço no prestigiado site Máquina do Esporte, que trata do lado negócios do esporte. Para isso, focou a comunicação não no péssimo ano passado, mas no biênio 2009-2010 - e aí falaram de um enorme salto de receitas em relação a 2008. Naquela temporada, Roberto assumiu a presidência no meio do ano no lugar de Eurico Miranda, sem patrocínio na camisa e com o time acabando rebaixado no Campeonato Brasileiro.


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Pra deixar bem claro: nada disso serve pra achar que a situação do Flamengo é boa ou aceitável e ainda estou ansioso pelas explicações da diretoria rubro-negra. É apenas pra mostrar que, infelizmente, o problema não é só na Gávea - é uma situação que se espalha por todo o futebol brasileiro.

Um comentário:

Bosco Ferreira disse...

Será o fim dos clubes grandes cariocas?
Digo isso não pelos balanços em si, mas pela incompetência dos gestores desses dois clubes nos últimos vinte anos e, principalmente pelos atuais gestores.