Ele veio, bacana. Mas continuo não ligando para reconhecimento da CBF

Entendo a satisfação, acho que pode ter lá sua importância - mas não compreendo comemorar como se o título de 1987 tivesse sido conquistado hoje.


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"O Flamengo se estabelece com o seu passado e agora pode seguir em frente com missão cumprida. Nós conseguimos o recohecimento, que eu coloquei em um evento há alguns dias que era minha missão de vida. Só não esperava que o departamento jurídico fosse tão rápido."

Esta foi uma declaração da presidente Patrícia Amorim em sua coletiva de hoje, para falar do reconhecimento oficial da CBF ao título brasileiro de 1987.

Sinceramente, não consigo acreditar que a decisão de hoje de Ricardo Teixeira tenha vindo por conta simplesmente da ação do Departamento Jurídico do Flamengo. Qual foi o fato novo? Que documento foi recentemente descoberto que mudou completamente o caso?

Vejo pelas redes sociais uma grande comemoração dos rubro-negros pelo que aconteceu hoje, como se o título brasileiro tivesse sido efetivamente conquistado nesta manhã, dentro de um gabinete de portas fechadas. Não foi; aconteceu em 1987, no Maracanã, em partida decidida com um gol de Bebeto.

Entendo que o carimbo oficial possa diminuir a encheção de saco externa em cima daquele título, e ser uma satisfação maior para os mais novos, que não tiveram um contato mais direto com a história verdadeira daquele campeonato. Ao longo dos anos, a tendência vinha sendo das contestações idiotas à conquista do tetra serem cada vez maiores, e nisso o que aconteceu hoje pode fazer alguma diferença. E vai ser no mínimo engraçado se os atuais dirigentes do São Paulo forem castigados por sua incrível babaquice, não só se submetendo a devolver aquela infame taça, mas também se dando conta de que criaram um pretexto besta para algo muito maior, que não seria de seu interesse.

Mas não era despeito: realmente não ligo muito pra reconhecimento da CBF, e portanto não posso estar exultante ou emocionado agora. Estou com Zico nessa: por mim, não mudou nada.


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Acho que era válido correr atrás do reconhecimento oficial e, por enquanto, parabéns a Patrícia Amorim, que trabalhou muito e conseguiu o que todo mundo queria, dando solução a um assunto chato e antigo, que nenhum presidente antes - mesmo os mais bem relacionados com a CBF - tinha conseguido resolver. Fez uma grande jogada, agradando em cheio não só a torcida, mas também seu público interno. Ela sabe disso, e já falou até que se sente como se sua missão como presidente estivesse cumprida. Mas dá pra tentar enxergar as coisas de maneira um pouco mais ampla.

A própria Patrícia dizia, há não tanto tempo assim, que se sentia perseguida por Ricardo Teixeira. Pois parem, pensem um pouco e se perguntem: será mesmo que o que aconteceu hoje foi simplesmente um acesso de lucidez dos dirigentes da CBF, um "ato de grandeza", como definiu Patrícia? Infelizmente, assim como distribuíram títulos numa canetada há bem pouco tempo, fizeram o mesmo agora, sem precisar explicar seus motivos de maneira convincente para ninguém. Colocando em perspectiva: o que a CBF declarou hoje é que este título de 1987 valeu o mesmo que o do Botafogo de 1968, e que agora o Flamengo é o terceiro maior campeão brasileiro - atrás dos "octacampeões" Santos e Palmeiras. Vale tanta celebração assim por algo que é obviamente muito mais político do que esportivo ou mesmo jurídico?

Só posso torcer para que a declaração de Patrícia Amorim, celebrando a velocidade e competência do Departamento Jurídico do Flamengo, tenha sido sincera e que não haja nenhuma costura política por trás disso que venha a influenciar de maneira indevida decisões sobre outros assuntos importantes - como, por exemplo, os novos contratos dos direitos de transmissão do Brasileiro e a relação do Flamengo com o Clube dos Treze. Mas é muito difícil não relacionar a atitude de Ricardo Teixeira hoje com as notícias que saíram na última sexta-feira, quando ninguém podia desconfiar do que aconteceria hoje, de que Flamengo e Corinthians estariam perto de pular fora do Clube dos Treze, em lance que muito interessaria à Traffic.

Já há por aí os que analisam como se o Flamengo tivesse hoje sacramentado o racha definitivo - e seria curioso que, depois de marcar a criação do Clube dos Treze, o Brasileiro de 1987 acabasse também determinante para o seu fim. Mas eu prefiro esperar. Patrícia é política, ainda é vice-presidente da entidade e teve, há poucos dias, uma declaração oficial de Fábio Koff dando conta de que entraria na Justiça junto com o Flamengo pelo reconhecimento do título. Embora haja muitas indicações no mesmo sentido, pode ser que as coisas tenham um rumo diferente.

Mas já escrevi antes e continuo com a mesma opinião: a história do título de 1987 não merece que ele seja vendido agora em alguma operação política. Espero que isso não tenha acontecido hoje.

E, tirando o mico merecido do São Paulo, não ligo a mínima pra Taça das Bolinhas.

8 comentários:

Murdock disse...

O que eu estou comemorando é que o arco-íris tá perdido, não sabe a quem recorrer, pra quem chorar, em que se agarrar. Estão como cachorros que cairam do caminhão de mudança "onde eu tô, pra onde eu vou?".

Por anos repetiram o mesmo mantra "a CBF não reconhece" e agora estão choramingando, dizendo que a CBF é vendida, incoerente, a mesma CBF a que eles se agarravam.

Claro que eu sempre soube que somos campeões de 1987 mas dessa vez estou me divertindo com a choradeira deles.

lussiannosousa disse...

Independente de uma possível influência do RT, tomara mesmo que a Patrícia saia do C13 e negocie com a Globo, caso a Record ganhe a disputa pela transmissão do Brasileirão. Já disse aqui que seria péssimo pro Fla e pra torcida aqui no NE acompanhar o Fla pela Record.

Juan disse...

O único valor desse tardio reconhecimento é calar o argumento calhorda da arcoirizada. De mais, eu vibrei com aquele tetra.

Marcelo Constantino disse...

E tem mais: não existe isso de "Flamengo e Sport são campeões". Nada disso, o Sport foi campeão da segunda divisão.

E, para a CBF, ela que entenda da maneira que quiser. O campeonato não foi dela, foi do Clube dos Treze. Concordo contigo, André, estou pouco ligando para a CBF reconhecer ou não.

Agora, veja como a Patricia passou a trabalhar corretamente (e não é de agora): primeiro faz, depois divulga.

Eduardo H. Costa disse...

A Patrícia aprendeu na marra. E mesmo ajudando muito o CRF de alguns meses pra cá, pra mim depois que queimou o Zico, eu não a engulo.

Sobre a duvidosa CBF, a gente que sabe das tretas, e por isso não merece nosso respeito.

Eu nem me importo com o trofeu feioso, mas será bem inusitado a saia justa da bambiland nessa semana após o reconhecimento do título de 87.

O humristas estão perdendo um prato CHEIO! kkkkkkk

Luis disse...

Como dizem os americanos, "I don't give a shit". O SP pode ficar c/ a horrorosa taça de bolinhas na prateleira e a CBF e os membros do clube doa 13 podem fazer as negociatas que quiserem com as TVs. O que importa para mim é o chopp que eu bebi em 1987.

Rafael disse...

Comemorar 1987 hoje??? Fala sério! Não se comemora o tetra quando já é hexa. Comemorei o tetra no próprio 1987.
Correu atrás e calou o arco-íris, maus-caráter e oportunistas. Parabéns Patrícia. Mas fazer festa é atestar que existia alguma dúvida nos rubro-negros sobre o título inquestionável desde 87.
POR FAVOR, SEM FESTINHA!!!

Bosco Ferreira disse...

Qual a plaquinha que o SPFW vai colocar na base da taça das bolinhas? Nos deram de presente?