A CBF ainda não oficializou a Taça Brasil como Campeonato Brasileiro. Dá tempo de desistir

É óbvio que todos já ouviram falar da tal "unificação" dos títulos nacionais que seria promovida pela CBF. O assunto não é novo - e é primo do "reconhecimento pela FIFA" dos títulos mundiais de Palmeiras e Fluminsense... -, e por isso muitos já tinham dado sua opinião muito antes deste último capítulo anunciado ontem no Jornal Nacional. Capítulo este que pode não dar em nada.

Rodrigo Paiva já avisou que esta decisão de reconhecer como títulos brasileiros as Taças Brasil e os Robertões dos anos 50, 60 e 70 ainda não foi tomada pela CBF. Creio então que vale, antes de alguém por lá resolver fazer um anúncio oficial neste sentido, tentar colocar bom senso na cabeça de quem decide uma coisa como esta.

Creio que a maioria que já leu sobre o assunto concorda que, se fosse para reconhecer alguma coisa destes títulos como equivalente ao atual Campeonato Brasileiro, a discussão deveria se limitar ao Robertão - que realmente tinha formato parecido com o que chamamos de Brasileiro entre 1971 e 2002, embora o primeiro, em 1967, ainda não fosse organizado pela CBD. Se resolvessem apenas aceitar como títulos brasileiros os destes Robertões, eu não acharia nada demais.

Mas dizer agora que aquelas Taças Brasil disputadas entre 1959 e 1968 valem o mesmo que os Campeonatos Brasileiros que vemos hoje - aí já é muita, mas muita, mas muita forçação de barra. Muita gente boa já escreveu por aí que, se for pra fazer alguma equivalência, ela seria com a Copa do Brasil. Mas, pra vocês entenderem o tamanho do absurdo que estão cogitando agora, vale conhecer a história do título brasileiro "recém-conquistado" pelo Botafogo, em 1968.

O Botafogo já entrou na competição nas oitavas-de-final, em que enfrentou o Metropol, de Santa Catarina. Dois jogos aconteceram em dezembro de 1968: vitória por 6x1 do Botafogo no Rio, vitória do Metropol por 1x0 em Criciúma. Como o saldo de gols não era levado em consideração, deveria haver uma nova partida para desempatar a disputa; porém, o estádio do Metropol não tinha iluminação para a partida, que deveria acontecer numa quarta-feira à noite.

A CBD quis transferir a partida para Florianópolis, o que não foi aceito pelo Metropol. Criou-se um impasse que, aliado à falta de datas para um jogo diurno em Criciúma, atrasou a Taça Brasil por meses. A partida desempate finalmente foi marcada para o Rio de Janeiro e foi disputada em General Severiano, já em abril de 1969.

Mas o problema ainda não foi resolvido. Aos 13 minutos do segundo tempo, um temporal interrompeu a partida, que estava empatada em 1x1. Uma nova partida foi marcada para dali a dois dias, mas o Metropol não compareceu. Assim, o Botafogo foi declarado vencedor por W.O. e finalmente classificou-se para as quartas-de-final.

Porém, a esta altura, o atraso de meses na competição já havia feito com que a CBD desistisse de apontar os representantes brasileiros na Taça Libertadores de 1969 através da Taça Brasil. A competição já era tão desvalorizada que Santos e Palmeiras, que estreariam no torneio respectivamente nas semi-finais e quartas-de-final, simplesmente desistiram de jogar. Assim, a tabela foi refeita e as quartas-de-final que o Botafogo jogaria se transformaram nas semi-finais.

O Botafogo venceu o Cruzeiro e classificou-se para a final contra o Fortaleza. Empatou no Ceará por 2x2 e, com a vitória por 4x0 no Rio, conquistou o título depois de disputar apenas sete partidas, uma delas interrompida na metade. Há controvérsias sobre o público pagante do último jogo, que aconteceu apenas em setembro de 1969 para definir o campeão de 1968; o Correio da Manhã falou em 34.588, enquanto JB, Última Hora, Gazeta Esportiva e A Tribuna publicaram que foram 13.588 pessoas.

E o Botafogo é campeão brasileiro de 1968? Então tá.

6 comentários:

Insurance USA disse...

Eu acho que a desorganização do campeonato não tira o mérito do título. Bom, tirar, tira. Mas vamos lá: o time não tem culpa, né?

O que acho que tira o mérito é a falta de representatividade. Já existiam quase todos os clubes grandes e eles já eram bem representativos nessa época. E nenhum topou participar?

Então, na boa, não sei se vale não...

André Monnerat disse...

A questão não é bem a desorganização do campeonato. Já tivemos Brasileiro terminando no ano seguinte e com regulamento mudando no meio - como o de 86 -, e ninguém discute que quem ganhou é campeão brasileiro. A questão é você perceber como aquilo era encarado na época.

Não conseguiram, por longos quatro meses, arrumar uma data pra um jogo do Campeonato Brasileiro? O Santos ia entrar direto na semifinal do Campeonato Brasileiro e simplesmente resolveu que não valia a pena jogar? E nada aconteceu com os times que desistiram, do nada, de jogar o Campeonato Brasileiro?

Esse era o Campeonato Brasileiro mesmo?

Bosco Ferreira disse...

André Monnerat;

E por falar em marca, olhem esta aqui e tire suas conclusões sobre o valor que se dá a marca Flamengo nesse país:

"Dia do Flamenguista em Russas-Ceará.
http://www.opovo.com.br/app/colunas/papodeverminoso/2010/12/11/noticiapapodeverminoso,2076781/e-pra-rir.shtml

Luis disse...

Para aqueles que "ganharam de presente" uns títulos nacionais meia boca, aí vai a minha sugestão: não vivam do passado, como o Mengão.

Murdock disse...

Mesmo sobre o Robertão ainda há discussão pois ele era um torneio com times definidos e convidados que eram os mesmos todos os anos, não havia como ter representantes do Brasil todo nem em outras divisões o que o deixaria diferente do Campeonato Brasileiro também.

Unknown disse...

A questão é mais simples ainda...aqui em SP, se a decisão beneficiasse o Corinthians... e aí no RJ... se beneficiasse o Flamengo é certeza q todos os comentaristas, cronistas, estariam xingando... falando que eh um absurdo...

Como sao "outros times" beneficiados essas mesmas pessoas acham "BACANA" a equiparacao...

Assino embaixo todos que falaram q os titulos tem seus meritos...parabens pelas conquistas... mas nao tem pq unificar...