Flamengo e Fluminense não sabem onde jogar - graças à CBF e à própria incompetência

Todo mundo foi pego de surpresa com a intromissão da CBF, determinando o fechamento do Maracanã por completo já no início de setembro. Uma decisão no mínimo estranha, indo contra o que havia sido determinado antes por quem toca a obra, e com motivos declarados risíveis.

A explicação de que, com a capacidade reduzida, o Maracanã poderia ter problemas de segurança em momentos mais decisivos da competição, quando a procura por ingressos for maior, só faria sentido se houvesse um estádio maior à disposição dos clubes do Rio. Mesmo apenas com o anel superior aberto, o Maracanã continuava tendo capacidade semelhante à do Engenhão, o maior estádio disponível na cidade.

A outra razão "técnica" foi ainda mais sem nexo: segundo a CBF, fechando o Maracanã no fim do primeiro turno, estaria sendo preservada a "igualdade de condições" entre os participantes. Ahn? A tal igualdade só aconteceria se todos os times já tivessem jogado com Flamengo e Fluminense no Maracanã. Com o fechamento no meio da competição, em qualquer momento que aconteça, alguns jogarão com a dupla Fla-Flu no Maracanã e outros não - isso não vai mudar.

Se algum técnico do governo ou das empresas envolvidas nas obras tivesse vindo a público falando sobre a necessidade de fechar o estádio por completo por conta do prazo, ok - não haveria como discutir, até porque o fechamento estava previsto para acontecer antes. Mas a decisão vinda da CBF, que não deveria ter nada a ver com a história, foi esquisitaça. Não há como não pensar em motivos políticos para isso - especialmente levando em conta os tão discutidos votos na eleição do Clube dos Treze e o episódio da negativa do Fluminense em liberar Muricy para a Seleção.

Lamentável.

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Porém, como já mencionei, o fechamento do Maracanã estava previsto para antes ainda do que acontecerá, independente da decisão da CBF. O fechamento repentino complica um pouco as coisas, claro, mas Flamengo e Fluminense já deveriam estar mais do que preparados para a situação de não ter o Maracanã disponível - algo que sabia-se que iria acontecer em algum momento desta temporada há muito, muito tempo. A falta de definição dos dois clubes agora mostra uma incrível incompetência das duas diretorias (incompetência que, no caso do Flamengo, iniciou-se no mandato anterior).

A definição de onde jogar como mandante envolve aspectos financeiros e técnicos. No Flamengo, o lado financeiro ganha ainda mais importância quando se vê o tamanho do peso da receita de bilheteria no balanço do clube nos últimos anos. O Flamengo agora terá que jogar num estádio menor e, independente da campanha, terá uma média de público menor que as 40 mil pessoas por jogo dos últimos três anos. A diretoria precisava ter trabalhado, desde o ano passado, para encontrar alternativas que diminuíssem ou mesmo compensassem o impacto disso nas contas.

Seria necessário pensar em formas de aumentar a taxa de ocupação do estádio e negociar para que a nova casa do time oferecesse outras fontes de receita além da venda de ingressos - como venda do nome do estádio, uso de camarotes, venda de produtos em dias de jogos, participação na receita de bebidas e comidas ou a possibilidade de ações de patrocinadores no estádio. Pra montar bem todos estes tipos de esquema, o trabalho tinha que estar sendo desenvolvido ao longo de meses - e não sendo resolvido de um dia pro outro, como está acontecendo agora.

E aí, pensando em soluções de grana mais fáceis, surgiram conversas em cima de opções como Volta Redonda, Barueri ou até fazer o time passar por cidades diversas, para aproveitar a torcida espalhada por todo o país. Só que aí tem que entrar o lado técnico.


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Em 2004, o Flamengo até tinha o Maracanã à disposição. Mesmo assim, decidiu transferir a maior parte de suas partidas para Volta Redonda, por motivos financeiros: a prefeitura da cidade oferecia uma boa compensação ao clube. O episódio é citado até hoje como case de sucesso por João Henrique Areias, que trabalhava no marketing do clube na época, e talvez até tenha influenciado as negociações posteriores sobre o uso do Maracanã - as condições realmente melhoraram de lá pra cá. Mas, pensando nos efeitos da época, a ideia foi um grande fracasso.

O Flamengo era o único time da competição que viajava sempre para jogar - fosse ou não o mandante. Somava-se a este desgaste o tamanho reduzido do gramado ajudava os adversários que iam jogar retrancados contra o Flamengo. Com isso, os resultados foram sendo ruins - em 9 jogos, foram 3 vitórias, 3 empates e 3 derrotas - e a ameaça de rebaixamento tornou-se real. O time não era bom, mas no ano anterior tinha terminado em oitavo lugar mesmo vencendo apenas duas partidas fora de casa - porque, mesmo com pouca gente no estádio, dificilmente perdia no Maracanã.

Pra piorar, a presença de público era bem abaixo do esperado - se não fosse a tal cota garantida pela prefeitura, a arrecadação seria muito ruim. Havia sido lançado um carnê para todas as partidas na cidade, mas nem 100 foram vendidos - e a diretoria praticamente ignorou os gatos-pingados que haviam comprado ao resolver levar os jogos quase todos de volta ao Maracanã. E, com a volta, o aproveitamento melhorou (excluindo-se os clássicos, o aproveitamento do Flamengo no estádio foi de 75% em 8 partidas, terminando o campeonato sem perder por lá contra times de fora). Mesmo assim, a permanência na primeira divisão só foi garantida matematicamente na última rodada, quando o time voltou a Volta Redonda para derrotar um já desinteressado Cruzeiro por goleada.

Evitemos este tipo de experiência perigosa neste momento. Realmente acredito que, com tempo para trabalhar, talvez desse para viabilizar uma arena alternativa no Rio de Janeiro mesmo que pudesse ser mais lucrativa para o clube. Mas não houve movimentação para isso; então, o negócio é não inventar e jogar no Engenhão mesmo, que tem um gramado de bom tamanho, uma capacidade bem razoável e não obriga o time a viajar além do necessário. Com certeza o Botafogo não vai inventar nenhum esquema abusivo demais para afastar Flamengo e Fluminense de seu estádio.

E que comecem a trabalhar desde já para que o esquema pro ano que vem seja o melhor possível - no Engenhão ou onde quer que seja.

3 comentários:

Bosco Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bosco Ferreira disse...

Acho que no ano que vem e de 2011 para frente, vamos ter menos problemas gerados pela falta de planejamento.

Victor Dill disse...

Esse pacote que nem 100 foram vendidos é um outro exemplo da falta de visão da diretoria.

Um dos maiores argumentos apra mudar a fórmula do brasileirão para a atual (praticamente insuportável muitas vezes) de pontos corridos era que com todas as partidas planejadas se poderia fazer adiantamento de renda como se faz na NBA. Se comrpariam todos os jogos no início do campeonato, ajudando as finanças do clube.

Pois bem: lembra como era o esquema? Só valia se fosse a cadeira mais cara (R$ 100,00) por jogo e no final, de 7, você ganhava um de graça... Quem tem 600 contos para adiantar assim de bobeira ainda mais naquela época?