Momentos decisivos do Hexa: a chegada de Álvaro e Maldonado

Antes do Brasileiro começar, dizia-se que o Flamengo era um time acertado atrás, mas com problemas para definir na frente. Com a chegada de Adriano, portanto, isso deveria estar resolvido e o time pronto para deslanchar, certo? Mas não foi o que se viu em campo; a aposentadoria do ex-capitão Fábio Luciano, ao fim do Estadual, parecia estar sendo muito sentida e o sistema defensivo vacilava constantemente em horas impróprias - basta lembrar de derrotas feias como o 5x2 para o Sport, o 5x0 para o Coritiba, o 3x0 para o Avaí ou o 4x1 para o Grêmio. Nos oito primeiros jogos da Era Andrade, o time sofreu quinze gols - média de 1,8 por jogo, um pouco acima da que fez do Náutico a pior defesa do campeonato. Mas, depois destas oito partidas, houve uma mudança radical nesta estatística - e ela tem muito a ver com a chegada de dois reforços muitíssimo bem escolhidos.

O chileno Maldonado já havia se destacado antes no Brasil, principalmente atuando por Cruzeiro e Santos. Andava sendo pouco aproveitado pelo Fenerbahce, da Turquia, que decidiu não renovar seu contrato. Assim, o Flamengo pôde trazê-lo da Europa sem pagar nada por sua liberação. Também sem custos além do que foi pago ao próprio jogador foi trazido o zagueiro Álvaro, que tinha no currículo a participação na Seleção Brasileira que disputou as Olimpíadas de Sidney e algumas temporadas na Espanha. Ele havia retornado da Europa para o Internacional, onde teve uma boa fase na conquista da Copa Sul-Americana de 2008; mas o rendimento em 2009 não fora o mesmo, ele ficou marcado por ter perdido na corrida para o roliço Ronaldo em um lance da final da Copa do Brasil contra o Corinthians e acabou rompendo o contrato com o clube gaúcho.

Parte da instabilidade da defesa do Flamengo podia ser posta na conta da juventude de vários dos jogadores que vinham atuando por ali. O experiente e líder Fábio Luciano, que tinha enorme importância não só por seu próprio rendimento mas também por saber orientar os companheiros dentro de campo, vinha sendo substituído por jovens como Wellinton e Fabrício, que nunca conseguiram inspirar segurança. Ronaldo Angelim, mais experiente, não apresentou características para substituir o antigo companheiro nesta função de líder no gramado - e ele mesmo começou a cair de rendimento. Para melhorar um tanto a situação, foi contratado David - mais um garoto, que mostrou qualidades, mas também não conseguiu resolver o problema.

Álvaro e Maldonado vinham de fases de baixa em suas carreiras, mas chegavam com um currículo respeitável. Jogadores experientes, cascudos, que haviam passado por todo tipo de situação em suas carreiras. Álvaro ainda vinha com a fama de falar muito em campo, perfil de líder. Como não andavam jogando bem em seus últimos times, poderiam até dar errado - mas tinham o perfil que o Flamengo precisava para dar jeito em sua defesa.

A estreia de ambos coincidiu com a primeira partida no campeonato em que Andrade armou o time no 4-4-2 desde o início. Em 29/8/2009, o Maracanã assistiu pela primeira vez ao Flamengo num esquema próximo ao que seria utilizado até o fim da competição: Álvaro e Angelim formando a dupla de zaga, protegidos por dois volantes (Aírton e Lenon - Maldonado, que vinha de um longo período de inatividade, entrou em campo no meio do segundo tempo) e, mais à frente, três jogadores - Fierro, Petkovic e Zé Roberto - buscando servir a Dênis Marques, o único atacante realmente fixo. Nesta nova formação, os ofensivos Léo Moura e Éverton precisaram se acostumar a jogar como laterais, também com funções defensivas, e não como alas voltados apenas para o ataque.

O resultado foi a primeira vitória realmente tranquila do Flamengo em um bom tempo: mesmo sem Adriano, o time fez 3x0 em cima do Santo André, com belas atuações de Petkovic e Zé Roberto. Na partida seguinte - um empate em 0x0 contra o Atlético-PR em Curitiba -, Maldonado já era titular. Era o início de uma impressionante sequência de seis jogos sem sofrer um gol sequer. Andrade pôde contar, na hora de colocar em prática o novo desenho que imaginara para seu time, com dois jogadores que sabiam o que fazer, como se colocar, quando dar o bote e o que dizer para seus companheiros para que tudo funcionasse. Depois, mesmo quando um ou outro precisou sair do time por contusão ou suspensão, a casa já estava arrumada.

Foi como uma milagrosa transformação de água em vinho, que ocorreu graças a uma feliz união de mudanças tanto na escalação quanto no esquema tático: a defesa do Flamengo deixou de ser uma peneira, que dava calafrios em seus torcedores a cada rodada, para tornar-se uma muralha difícil de ser batida. Algo que deu tranquilidade ao time para render também no ataque e arrancar rumo ao título.

2 comentários:

Robson Maximo disse...

Excelente observação, análise perfeita da transformação do nosso Mengão no meio do campeonato. Graças a Deus veio na hora certa.

Flávio disse...

Se pudesse estabelecer uma escala entre os "momentos decisivos para o Hexa" elegeria esse como o mais importante.
Não existe dúvida alguma: time que vence um campeonato de pontos corridos é o time de melhor defesa.
Por isso, não podemos nos iludir com a Libertadores. Precisamos de reforços. Não podemos ficar apenas com Dênis Marques e Obina na luta para ver quem é pior. O Love é muito bem-vindo.
Também é importante a contratação de um meia para jogar com o Pet.