O Flamengo colocou no ar, dentro do site oficial, o hotsite Rei do Rio. É uma celebração à hegemonia rubro-negra no Campeonato Carioca, consolidada este ano - com o time se tornando o maior vencedor de títulos na história da competição. Está com grande destaque logo na entrada, mas o endereço direto é o http://mkt.flamengo.com.br/reidorio/
Há textos de muitos convidados, sobre várias das conquistas do Flamengo ao longo dos anos. As colaborações são de gente como os campeões Raul Plassman, Sávio e Nunes, os jornalistas Roberto Assaf e Renata Cordeiro, o cartunista Arnaldo Branco, o urublogueano Arthur Muhlemberg - e eu. Me foi pedido que escrevesse sobre um dos títulos a que assisti, e acabei pegando o de 1991.
Vale a visita à página, mas meu texto segue aí embaixo:
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Naquela época, vejam bem, a TV aberta não costumava passar jogos decisivos como aquele para a cidade onde ele acontecia. Não existia TV a cabo, muito menos pay-per-view – nem em casa, nem no boteco da esquina, nem em lugar nenhum. Internet, com tempo real em portal ou streaming pirata? Claro que não. Naquele dia, a única alternativa para quem morava no Rio, não estava no Maracanã e queria acompanhar o jogo era mesmo o rádio.
O Flamengo vinha fazendo uma daquelas campanhas flamengas – aquele time que entra muito mais ou menos no campeonato, em algum momento encaixa, engrena na hora certa e aí, “deixou chegar...” – já sabe. Carlinhos, o técnico do tetra brasileiro de 87, havia assumido no início da competição o lugar que era de Vanderlei Luxemburgo, jovem treinador valorizado pelo título paulista com o Bragantino, mas que não dera certo na Gávea. A campanha na Taça Guanabara foi ruim, mas na Taça Rio o time se acertou e conseguiu o direito de disputar um jogo-desempate com o Botafogo, então considerado o melhor time do Rio. E uma vitória por 1x0, gol do centro-avante Gaúcho, colocou o Flamengo na final contra o Fluminense.
No primeiro jogo, empate por 1x1. A decisão ficava em aberto para o segundo jogo – aquele que eu me preparava pra ouvir, da minha cama, no meu quarto, muito concentrado.
Eu era um moleque cheio de superstições na hora de ouvir jogos do Flamengo. Gostava de fingir que estava no estádio, e repetir o ritual da torcida no início dos jogos – “ó, meu Mengão”, daí hino, depois cantar a escalação, jogador por jogador: Gilmar, Charles Guerreiro, Júnior Baiano, Gottardo e Piá; Uidemar, Júnior e Zinho; Paulo Nunes, Gaúcho e Nélio. Se não, não dava certo.
Carlinhos montou um time com três atacantes, algo já raro naquela época, fazendo os pontas voltarem sempre marcando os laterais adversários. O time estava recheado de garotos vindos da base – além de Júnior Baiano, Piá, Paulo Nunes e Nélio, havia no banco Rogério, Marquinhos, Marcelinho, Fabinho. Era a molecada que havia conquistado a Taça São Paulo de juniores, no ano anterior – liderados em campo pelo velho Júnior, tão criticado no início daquela segunda passagem pelo Flamengo, mas que reencontrara seu futebol e se tornara o Maestro. A escalação daquele jogo final do Estadual foi exatamente a base que conquistaria o penta brasileiro no ano seguinte – apenas Paulo Nunes perdeu sua vaga, no finzinho da campanha, para o goiano Júlio César (o Imperador, muito menos glamouroso, daquela época).
Aquele Estadual foi, portanto, a montagem de um time que conquistaria o país no ano seguinte. Mas, naquele dia, ninguém ainda sabia disso. E haja nervoso, imaginando os lances na narração corrida do rádio, sem imagens, só as da cabeça. No primeiro tempo, 1x0 Fluminense, gol de Super Ézio. Tava ruim.
Mas era apenas o prólogo para um segundo tempo memorável. O volante Uidemar empatou, num gol de cabeça – algo mais do que raro pra ele. E, a partir dos 25 minutos, o jogo tornou-se eletrizante: Gaúcho virou, também de cabeça; aos 32, Zinho emendou de primeira uma bola de fora da área e fez 3x1; um minuto depois, em falha de Júnior Baiano – como falhava Júnior Baiano! -, Ézio fez mais um e trouxe o Fluminense de volta pro jogo; mas, aos 38, Júnior fez o seu e decretou o 4x2 final.
Agora, imaginem esses 15 minutos, com 4 gols e vários outros lances – em casa, de pijama, 13 anos de idade, o Flamengo ocupando uma parte gigantesca das preocupações na vida, e pulos em frente ao rádio, que gritava de volta daquele jeito que você não sabe bem o que tá acontecendo, mas consegue visualizar tudo, sabe-se lá como. Até hoje, lembro do tricolor José Carlos Araujo, o jogo se encaminhando pro fim, e ele convocando: “rubro-negros, coloquem sua bandeira na janela, vistam suas camisas, pintem a cidade de vermelho e preto!”
Flamengo, campeão carioca de 1991!
Um comentário:
Nostalgia total... Tinha 10 anos na época, fiquei só ouvindo no rádio e tinha também um ritual caseiro, com uniforme estendido no sofá e tal. Lembro que ouvi até uma parte do jogo pela Transamérica.
A Band passava o compacto depois do jogo? Isso não lembro, posso estar confundindo com outros anos.
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