O "sócio"-torcedor - é pra reclamar com quem?

O tal "sócio-torcedor", o Cidadão Rubro-Negro, ainda nem saiu - e, com o Flamengo, não dá pra contar com previsões e especulações, tem que ver a parada realmente acontecendo. Mas o assunto já levantou muita discussão por aí - e muitas críticas.

E as reclamações sobre o programa que ainda não existe batem basicamente em dois pontos: não vai dar ingressos, ou descontos em sua compra; e não dá direito a voto.

Eu concordo com os dois pontos - fosse eu montando um "sócio-torcedor" pro Flamengo, estes seriam os pilares da coisa. E principalmente a questão dos ingressos é básica pra que o projeto realmente deslanche com facilidade e se torne realmente relevante nas contas do clube. Sem isso, vai ser mais uma FlaTV - uma ação a mais, pode render alguma coisa, mas não vai ser salvação de nada. Então, em a coisa ficando por aí mesmo, as críticas são justificadas.

Porém, voltar as baterias apenas contra o Marketing do clube é simplificar a coisa.

Sobre o direito ao voto: isso obviamente envolve mil questões políticas, negociações com conselhos etc. etc. etc., que vão muito além da competência do departamento de marketing. Criar uma nova categoria de sócio, a preços acessíveis a mais gente, dando direito a voto, é algo que precisaria partir de uma decisão política de quem tá mais acima - e seria uma briga boa. Mas que não tem a menor cara de que acontecerá; o próprio Márcio Braga já disse, com todas as letras, que não vê importância em se atrair mais sócios para o clube. Pois é.

Quanto aos ingressos: como vocês sabem, fiz no ano passado uma entrevista aqui pro blog, por telefone, com o Ricardo Hinrichsen, diretor do Marketing (procurem nos arquivos da tag "administração e marketing"). Perguntei sobre isso - não só por um possível sócio-torcedor, mas quanto ao Passaporte Rubro-Negro, um projeto que foi anunciado pelo próprio Kléber Leite acho que em 2006, foi enrolado por um longo tempo e acabou morrendo antes de nascer. A negócio é: a questão dos ingressos também não está nas mãos do marketing. Quem lida com isso é o pessoal do Futebol, e há mil amarrações - que incluem até contrato com a Ingresso Fácil e BWA, adiantamentos milionários já feitos com a empresa, enfim. Além da manjada desculpa da falta de estádio próprio, agravada agora pela situação do Maracanã, que em breve será fechado para obras por alguns anos.

É possível fazer? Sim, é possível, e já escrevi sobre isso aqui repetidas vezes. Mas não é simples; não tanto por viabilizar o negócio externamente, com parceiros, estádio etc. e tal, mas muito pelo trabalho interno mesmo. Seria necessário um monte de desamarrações com outros departamentos do clube - e eles, como se sabe, não se falam tão bem. Não à toa escapou por aí uma notícia de campanha de doações pelo Íbson, em seguida o pessoal do Futebol desmentiu e jogou a culpa no marketing e por aí vai. O próprio assunto do "sócio-torcedor" é amplamente desconhecido lá dentro por quem não está lidando de maneira mais próxima com ele.

Daí chego à conclusão de que havia duas alternativas pra lançar o projeto: trabalhar com os dois limitadores, péssimos pra qualquer projeto - não vai ter voto, não vai ter ingresso -, ou partir pra briga interna pra desfazer todos os nós e lançar algo direito. A opção, parece, está sendo a primeira. Triste - mas típico do Flamengo. E, devemos ainda lembrar, estamos em ano eleitoral, em que tudo é mais difícil.

Mas, mesmo que, olhando mais de perto, cheguemos à conclusão de que o pessoal do marketing é horroroso, não trabalha direito, todos lá são péssimos: daria pra ser melhor, dentro da estrutura atual? Como atrair grandes profissionais do mercado, gente da Unilever, Procter & Gamble, Ambev, Coca-Cola - se até hoje o departamento de marketing do clube não tem um orçamento próprio pra trabalhar e, pra completar, sabe-se que os salários dos funcionários por lá atrasam com frequência? É possível tirar um cara que esteja realmente numa bela posição do mercado e convencê-lo a trabalhar nestas condições?

Deste jeito, fica-se na dependência de aparecer um Fábio Fernandes rubro-negro - um cara top disposto a trabalhar de graça, admitindo publicamente que o faz por "loucura". E mesmo ele, no Vasco, só foi pra lá porque botou fé na mudança que Roberto Dinamite pode representar.

Ou seja: o buraco é mais em cima.

5 comentários:

André Amaral disse...

Perfeito Monnerat. Muito bem abordado cara.

As críticas devem ser ampliadas, e não ficar restrita só ao MKT como eu ficava.

E uma dúvida, tinha sido veiculado uma notícia que o dep. de MKT viraria uma empresa para ter recursos próprios???

André Monnerat disse...

Rolou esse papo no início do ano. No fim, a intenção mesmo era criar um CNPJ diferente, sem dívidas com o governo, pro Flamengo poder assinar com a Petrobras.

Iam fazer também ONGs pros esportes amadores, também pra poderem usar as leis de incentivo do governo...

Mas Flamengo, sabe como é. Anunciaram, mas nunca saiu do papel.

Patrick disse...

Monnerat, eu JAMAIS colocaria o meu nome neste tal projeto cidadão rubro-negro. JAMAIS! Se o cara vai lançar o projeto, ele está assinando seu conteúdo. Se ele acha que o projeto é ruim porque não há estrutura para realizar um melhor, que peça demissão. Infelizmente é assim que eu penso.

Da minha parte continuo achando aquela turma do marketing incompetente ao extremo. Ao extremo!

Vou tirar dessa o Juan Saavedra que revolucionou uma parte daquele site horroroso que o Flamengo tinha. Tudo que foi feito de novo é espetacular.

André Monnerat disse...

Patrick, beleza, mas é o que eu falei: nas condições atuais, quem é que vai trabalhar no Flamengo?

Você vive falando que gostaria de ver no comando do Flamengo gente de empresas como estas que eu citei no texto. Elas aceitariam ir pro Flamengo? Pra receber atrasado, pra não ter telefone na mesa, pra não ter um RH pra ajudar em contratações, pra não ter um orçamento definido...?

É isso. Mesmo que eu concorde contigo que os caras são ruins (e até tendo a concordar que não parecem a altura do trabalho), o problema continua sendo mais em cima.

Daniel Félix disse...

O Sócio Torcedor é algo, que na minha opinião é fundamental e prioritário no clube. eu prefiro nem me empolpar muito com este projeto, pois neste Flamengo é bom se esperar para ver, não sei porque, mas eu acho que tudo no Flamengo deveria se fixar ao corporativismo, A comunicação do clube, assessoria, deveria ser administrada por uma empresa do setor, unificar o que irão falar na mídia, para não dar a atual impressão de desordem, onde cada um fala uma coisa. o Projeto de Sócio Torcedor, todo feito por empresa de marketing esportivo e por fim, o Futebol virar S/a. entratanto, neste caso, há grande preocupação, pelo fato da renda não ser distribuída.
Também acho que Marketing e Comunicação deveriam ser um setor só.
pretendo adquirir um título de sócio para 2012, até o dia 31 de agosto e espero obter êxito futuros.
aliás, o Flusócio é um bom exemplo de iniciativa de pessoas de fora do clube.
Avante cadeira do conselho deliberativo!