Não há a menor dúvida de que o Flamengo foi o campeão brasileiro de 1987, pra quem realmente viveu a época e/ou conhece a história. Mas o tempo passa, a memória de muitos vai embaçando, outros tantos simplesmente não viveram aquilo - e, com o tempo, a encheção de saco em cima deste título, que na época ninguém contestava, vai crescendo. Por isso, é importante democratizar a informação e fazer com que os torcedores de hoje saibam como este campeonato (o primeiro título nacional do Flamengo que eu realmente acompanhei) foi conquistado.
Publiquei originalmente o texto abaixo no FlamengoNet em 2007. Senta, que lá vem história:
Publiquei originalmente o texto abaixo no FlamengoNet em 2007. Senta, que lá vem história:
O Campeonato Brasileiro era, na época, um torneio inchado e deficitário, marcado por uma desorganização profunda. A cada ano, os critérios de classificação para a primeira divisão mudavam e não havia rebaixamento ou acesso. Em 1986, com a competição – que contava com 44 equipes na primeira divisão – em andamento, a fórmula sofreu alterações graças a brigas no tapetão e o título só se decidiu no ano seguinte. O órgão superior do esporte brasileiro na época, o CND (Conselho Nacional de Desportos, vinculado ao Ministério da Educação), havia anunciado a intenção de organizar o Brasileiro de 1987 com 24 equipes, com previsão de redução no ano seguinte, como maneira de moralizar e viabilizar a coisa toda.
O plano já não era muito levado a sério, depois de toda a confusão de 86. E acabou que a CBF – na época dirigida por Otávio Pinto Guimarães e seu vice, Nabi Abi Chedid – anunciou que seria incapaz de organizar o campeonato por falta de dinheiro. Foi quando se formou o Clube dos 13, que tomou a frente da organização do Brasileiro com a intenção de fazê-lo rentável. Com o apoio de patrocinadores fortes, formatou uma competição com 16 clubes, incluindo como convidados Goiás, Coritiba e Santa Cruz. Em negociação com a CBF, acertou-se que ela seria responsável pela organização da segunda e terceira divisões. A primeira divisão foi chamada de Módulo Verde; os seguintes seriam o Amarelo, Azul e Branco (os dois últimos, regionais, equivaliam à terceira divisão).
Como surgiu a idéia esdrúxula do cruzamento da primeira com a segunda divisão
O plano gerou descontentamentos. Alguns com razão; afinal, nem Guarani nem América – 2º e 3º colocados de 86 – estavam incluídos na primeira divisão. Outros eram simples choro de quem estava acostumado a uma boquinha. De qualquer forma, a pressão de cartolas de clubes e federações excluídos da elite foi grande; estavam todos acostumados aos antigos campeonatos com dezenas de clubes. A CBF cedeu e, com uma liminar da Justiça tirando o poder do Conselho Arbitral formado pelos clubes sobre o regulamento, anunciou uma mudança com a competição já em andamento: para definir o campeão brasileiro, haveria um cruzamento entre os dois primeiros colocados dos módulos verde e amarelo.
O Clube dos 13 não aceitou a decisão da CBF, que afinal de contas nem mesmo estava organizando o campeonato. Todos os clubes do Módulo Verde, assim, concordaram que não disputariam o tal cruzamento imposto com times da segunda divisão. E o campeonato prosseguiu com grande sucesso de público: a média da competição foi de 20.877 pagantes por jogo, enquanto a do Flamengo foi de incríveis 47.610 pessoas por partida.
Olhando hoje a escalação do Flamengo daquele ano, é difícil imaginar que aquele time não era o favorito ao título: Zé Carlos, Jorginho, Leandro, Edinho e Leonardo; Andrade, Aílton e Zico; Renato, Bebeto e Zinho. Dos 11 titulares, 10 frequentaram a Seleção e apenas Andrade e Aílton não chegaram a disputar uma Copa do Mundo. Porém, a verdade é que o Flamengo foi um azarão; começou mal a competição, dirigido por Antônio Lopes, e só engrenou quando Carlinhos assumiu o time – e, claro, quando Zico voltou de contusão. Na primeira fase, classificavam-se para a semi-final o campeão de grupo de cada turno; em nosso grupo, o Atlético Mineiro venceu os dois turnos e só nos classificamos por termos sido segundos colocados no segundo turno.
Flamengo 3 x 1 Santa Cruz, com show de Zico - era a arrancada para o título. "É bom, é gostoso ver o Zico outra vez marcando no Maracanã!"
Mas na hora da decisão o time estava embalado, com Zico fazendo diferença e Renato se mantendo como o maior atacante daquele campeonato. A imprensa falava muito da provável “final do pão de queijo” entre Atlético e Cruzeiro, considerados favoritos. Mas após a classificação épica no Mineirão em cima do time de Telê Santana, o título veio sobre o Inter, com uma vitória de 1x0 no Maracanã, gol de Bebeto.
Os melhores momentos da segunda partida da semi-final contra o Atlético-MG
O gol do título
A discussão que veio depois
Não havia dúvidas: o Flamengo era tetra-campeão brasileiro de futebol. Foi assim que o título foi noticiado na época, de norte a sul do país; não havia discussão. Porém, a briga na Justiça continuou. A liminar que tirava o poder dos clubes sobre o regulamento até chegou a ser derrubada e o cruzamento abolido, decisão que foi revertida mais tarde. O Clube dos 13 tinha o apoio do CND, mas a CBF insistiu com a história e marcou os jogos – que não tiveram seu espaço no calendário de 87, já que não eram previstos, e só foram acontecer no ano seguinte. Guarani e Sport haviam bizarramente empatado na disputa de pênaltis que decidiria o Módulo Amarelo e dividiram o título da segunda divisão; fizeram a final da CBF – já que tanto Flamengo quanto Inter não aceitaram participar, seguindo a decisão tomada pelo Clube dos 13 - em jogos de ida e volta e o time pernambucano acabou campeão.
Tirando as torcidas de Guarani e Sport, ninguém levava muita fé naquilo ali. No duro, a encheção de saco sobre nossa conquista é muito maior hoje do que foi na época. Porém, a CBF acabou levando a melhor nos tribunais e conseguiu o despropósito de indicar dois times da segunda divisão para disputarem a Libertadores de 1988.
Resumindo: em campo e dentro do regulamento, o Flamengo foi o campeão brasileiro. Não jogou o tal cruzamento com a segunda divisão por decisão conjunta do Clube dos 13 - o verdadeiro organizador da parada -, que não aceitou uma mudança imposta no regulamento quando o campeonato já corria, feita por uma entidade que havia aberto mão de organizá-lo.
7 comentários:
Eu me lembro bem desse momento pq era algo que me emputecia MUITO. O Flamengo cedendo dois jovens atacantes por um volante veterano -- e que ganhava mais do que os dois juntos!
E o triste E.S. Silva ainda vendia a idéia de "economia" para o clube, talvez pelos US$ 5 milhões que vieram/viriam na negociação. Sem contar, claro, os jabás.
Lembro que escrevi pra tudo quanto era e-mail de jornalista. Um deles até respondeu (nem lembro quem era) dizendo algo como "realmente, é um ponto que eu não havia pensado".
E assim foi, com todo mundo achando um barato trazer o Vampeta e se livrar dos garotos.
Err... foi mal, publiquei na área errada. Era pra falar da venda do Adriano/Reinaldo. :)
Tem uma historia de que o Eurico, então presidente do Clube do 13, teria legitimado a ideia da CBF e assinado meio que às escuras um acordo entre Clube dos 13 e CBF.
Sabe se isso é verdade?
O Eurico não era presidente do Clube dos 13. Ele foi representante do Clube dos 13 numa reunião, apenas, e parece que realmente assinou um papel sem a concordância dos demais no meio da briga.
Mas essa história só anda enchendo o nosso saco. Vamos esquecer essa porra! Fodam-se o Sport e a CBF.
E acho bom ganhar o jogo domingo.
Agora sim o flamengo é PENTA!!
Parabéns!
Pois é, "anônimo".
Pentacampeão carioca de basquete!
Agradeço pelos parabéns.
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