Pois bem: de um tempo pra cá, Leonardo passou a expor sua teoria de como salvar o Flamengo. E trata-se da venda, pura e simples, do clube. Ele repete isso, deixando bem claro o seu pensamento, em entrevista publicada em O Globo. Não tem perdão, não tem o clube mantendo o controle acionário de uma nova empresa, nada disso: é pegar o que tem e vender tudo pra alguém com grana.
Como seria o processo?
LEONARDO: O Flamengo já pensou nisso, mas sempre mantendo sua associação de membros como majoritária da empresa. Estou falando de uma coisa radical, em que você elimina o que está acontecendo.
Quando perguntado se o torcedor não estranharia, Leonardo diz que é "uma questão cultural". Bem, pode até ser. Mas taí uma ideia com a qual, hoje, não consigo me acostumar.
Leonardo está na Itália, trabalhando no Milan de Silvio Berlusconi. Devo dizer: me dá arrepios a ideia de o Flamengo ter um dono como Berlusconi. Mas eles são campeões do Mundo, da Champions League, de tudo, então vale a pena, certo? Bom - sei não. Já contei aqui a história dos torcedores do Manchester United que, inconformados com a venda de seu time para um americano, fundaram outro clube. Eu simpatizo e muito com esses caras.
Não que hoje o clube esteja em boas mãos. Mas imaginem o Flamengo sendo comprado por um mafioso russo. Por um poderoso chefão do tráfico. Por um Daniel Dantas! Uma vez que um cara desses tome posse do clube, como retomá-lo depois? Terei que me conformar em ver o clube que faz parte de quem eu sou desde que me entendo por gente estando nas mãos de alguém assim, sem poder fazer nada?
Não que hoje o clube esteja em boas mãos. Mas imaginem o Flamengo sendo comprado por um mafioso russo. Por um poderoso chefão do tráfico. Por um Daniel Dantas! Uma vez que um cara desses tome posse do clube, como retomá-lo depois? Terei que me conformar em ver o clube que faz parte de quem eu sou desde que me entendo por gente estando nas mãos de alguém assim, sem poder fazer nada?
Leonardo dá exemplos de times no Brasil que têm ou já tiveram dono, para mostrar que isso é natural. Mas não me parecem bons casos. O Palmeiras teve a Parmalat como seu "dono", ganhou títulos, mas quando a empresa pulou fora, largou um clube sem estrutura, endividado e que acabou, anos depois, sendo rebaixado à série B. O Fluminense, que "é da Unimed", também está longe de me parecer trilhar um caminho de crescimento institucional, algo que aponte para uma boa situação mais na frente. E bem: o próprio Leonardo já declarou, em entrevista há alguns anos no Arena Sportv, que as contas do Milan - e da enorme maioria dos clubes europeus - não fecham. Pra viver, o clube depende de injeção de dinheiro de Berlusconi. É isso: o Milan, segundo o próprio Leonardo, é uma instituição que não se mantém com as próprias pernas e que precisa de grana de um "mecenas apaixonado" para se manter competitivo como sua torcida espera. É esse o modelo que o Flamengo deve seguir?
Eu tendo a achar que não - nem o Flamengo, nem o futebol como um todo.
Está na cara que, como Leonardo diz no fechamento da entrevista, o pessoal que está lá tem que pedir o boné e ir embora. E que o modelo de administração que existe hoje simplesmente não tem como ser mantido, sob pena de acabarmos vendo o Flamengo fechando as portas em algum momento. Mas não acho que isso implique na venda do clube, como ele propõe. Vou pegar um exemplo lugar-comum aqui: o Barcelona é, até hoje, um clube de seus sócios, que elegem seu presidente e tudo o mais. E é o Barcelona.
Vejo com mais simpatia o modelo que propõe João Henrique Areias, o cara que está hoje à frente dos esportes olímpicos. Em entrevista ao Urublog, um tempo atrás, ele propôs um modelo "formado por uma diretoria profissional abaixo do Conselho Gestor (formado pelo presidente e vice-presidentes eleitos, mais uns 7 rubro-negros notoriamente vencedores em suas áreas de atuação), selecionariam um Diretor Executivo (que faria o papel do presidente no dia a dia) um Diretor Esportivo para atividade-fim (Futebol e Esportes Olímpicos) um Diretor de Negócios para as atividades-meio (marketing, comunicação e tecnologia-novas mídias) e um Econômico para as atividades de retaguarda (administração, finanças, RH, jurídico, patrimônio, etc.), cobriria as duas atividades esportivas. Acrescentaria um Diretor Social (atividade-fim) para cuidar do clube e seus sócios. Este modelo não implicaria em grandes mudanças estatutárias e prepararia o clube para no futuro, se for o caso se transformar empresa em parte ou em sua totalidade." Não sou um admirador incondicional do Areias, como muitos andaram se tornando, mas a proposta dele me soa bem mais simpática do que a de Leonardo - e preserva o clube como instituição.
7 comentários:
"Devo dizer: me dá arrepios a ideia de o Flamengo ter um dono como Berlusconi".
E nós somos comandados por Kleber Leite e sua trupe. Os resultados deles são melhores, e o Berlusconi quer fazer dinheiro com o Milan. Só vencendo para conseguir.
Essa porposta do Areias nada mais é do que o mesmo de sempre. Vão encher de cargo, mas basta o futebol ter resultados ruins, que logo volta a fórmula antiga. Isso não funciona e o primeiro mandato do Marcio Braga prova o que estou dizendo.
veja o que escrevi a respeito: http://br.oleole.com/blogs/cariocas/posts/quotpede-o-bone-e-saiquot
André Monnerat
Boa tarde
Tenhamos cuidado com a superposição de funções.
poisÇ
um Diretor de Negócios para as atividades-meio (marketing, comunicação e tecnologia-novas mídias).
Não seria o ideal em função do volume de novas tecnologias que estão surgindo, seria ideal uma diretoria (sim uma diretoria, pois desta forma teria acesso direto ao presidente e haveria sempre a opção de se fazer o que mas a empresa precisa)
um Econômico para as atividades de retaguarda (administração, finanças, RH, jurídico, patrimônio, etc.)
Areas totalmente antagonicas, pois administração e finanças tudo bem, mas RH e antagonica as duas primeira, o juridico as tres primeiras e patrimonial esta mais para finanças.
Temos que ter cuidado com a extrema simplificação, pois termos areas extremamentes assoberbadas, onde o responsavel, acabara colocando as famosas "pessoas de confiança, tipo amigos irmãos, parentes, nem sempre preparadas para o cargo.
Lucas, eu tinha lido já o seu post. Concordo com o que você escreveu, sou crítico dessa galera toda, acho que eles têm todos que pedir o boné - e disse isso no texto.
Porém, não sou a favor de venda. Então, porque não gosto dessa diretoria, o negócio é vender o clube e deixá-lo eternamente (ou até o cara querer vender) na mão de outro que tenha dinheiro?
Como eu falei no texto: o Flamengo não tá em boas mãos agora. Não quero o Kléber Leite lá.
Mas não quero um Berlusconi - que inclusive não quer fazer dinheiro com o Milan, e sim mídia. O dinheiro dele vem de muitos outros cantos. Ele gasta dinheiro com o Milan, não ganha.
Jorge - pra ser sincero, nem prestei muita atenção às divisões de cargo que o Areias propõe. O organograma da empresa é discutível. O que eu gosto é do modelo de um conselho eleito pelos sócios, que contrata executivos profissionais pra tocar o negócio. Aliás, isso é um modelo comum de empresa - você tem o conselho dos acionistas, que se reúne de tempos em tempos pra avaliar o negócio e definir metas, mas quem toca as coisas são os executivos contratados - que têm que dar satisfações aos donos.
pela primeira vez concordo plenamente com um comentário seu. Direto sem meias palavras e principalmente discordando dessa idéia muito fora de contexto do nosso querido Leonardo. O Flamengo de modo algum pode Pertencer a uma empresa ou pessoa, ele é um patrimônio nacional, um patrimônio da nação Rubro-Negra. Concordo ainda mais com você quando você apresenta o modelo sugerido pelo Areas como uma solucção muito mais interessante para a realidde brasileira. Não só a realidade cultural das torcidas de não estarem acostumadas com times que têm donos, mas principalmente com a cultura de "levar vantagem" do brasileiro, somada a nossa notória flta de caráter que dá brechas a todo tipo de corrupção. Se com uma diretoria e conselho de 400 pessoas despreparadas já é um mangue. Imagina um Dniel Dantas o que não ia fazer, ou desfazer com o Mengão.
Não eu proponho uma solução bem Barcelônica. Vamos iniciar de uma vez o nosso programa de sócio torcedor e com poder de voto nas mãos da massa vamos remodelar o estatuto para que seja possível uma estrutur administrativa enchuta e profissional.
SRN.
Me desculpem discordar de todos por enquanto, mas sinceramente não vejo diferença entre ter um dono Berlusconi ou um Vice Presidente Kleber Leite ou um Presidente Edmundo Santos Silva.
Se vocês prestarem atenção no que o Leonardo complementou, o maior patrimônio do Flamengo vai sempre existir: a Nação!
Acho que ficam todos imaginando um Berlusconi no Fla, mas praticamente todos os outros grandes clubes europeus seguem o mesmo modelo e são bem-sucedidos por isso, basta ver a ascenção dos times ingleses na Champions League. O Barcelona é exceção. A questão é que do jeito que está não dá. Tenho vergonha de ler notícias do tipo que apenas 8 chuveiros no vestiário do Flamengo tem água quente, nem todos os titulares tomam banho de água quente. Tenho vergonha de ver como está a fachada da Gávea. E tenho vergonha de ver tantos valores desperdiçados no nosso Mengão por pura falta de estrutura. Temos que ter consciência de que a única coisa que nos sustenta hoje é a nossa torcida e mesmo assim estamos sobrevivendo aos trancos e barrancos, fazem 17 anos que não ganhamos o Brasileirão, 28 a Libertadores... o Fla não deveria ser assim! Enquanto tivermos dirigentes enchendo a boca para falar que trabalham de graça, mas ao mesmo tempo fazem um trabalho pela metade não vamos sair dessa situação.
Por mim, não importa quem vai entrar com o dinheiro, quem vai lucrar, eu quero voltar a ganhar tudo! Ou vocês acham que os Urams da vida já não estão lucrando muito com o nosso Mengão?
Leonardo surge com ares sebastianistas de salvador da pátria. Aconselhável é notar como os clubes ingleses vêem isso tudo. Há o exemplo recentíssimo do Liverpool, que busca um caminho absolutamente contrário ao que o Leonardo propõe.
Saudações rubronegras!
Daniel, maneiro que você venha por aqui mesmo não concordando nunca com meus comentários! :)
(É meio brincadeira, mas é maneiro mesmo. Você não precisa concordar com uma pessoa pra gostar de ler o que ela escreve. Pelo menos pra mim não funciona assim.)
E Gustavo, a diferença entre o Berlusconi e o Kléber Leite é a seguinte: os dois são lamentáveis, mas o segundo a gente tem como ter perspectiva do cara sair um dia. O primeiro, só se ele quiser, já que é o dono da parada.
Enfim - eu tô tendo discussões sobre isso por e-mail com amigos que também leram o texto e acham que não é ruim vender o clube. Isso é uma discussão conceitual.
Acho que todos concordam que a administração tem que ser profissional, que o cara que realmente toca o clube tem que ser pago pra isso, viver disso, ter metas a cumprir, prestar contas de seu trabalho. Eu só não acho que, pra isso acontecer com bons resultados, seja necessário vender o clube, fazê-lo ter um dono. De novo: pode ser cultural, pode ser problema meu isso. Mas eu não gosto dessa ideia.
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