Qual o sentido?

Daqui a cerca de duas horas, entrará em campo - em plena tarde de quarta-feira - o caríssimo time do Flamengo. O palco é o estádio Giulite Coutinho, em Édson Passos, Baixada Fluminense. O adversário, o tradicional Madureira, o tricolor suburbano. Expectativa de público? Deixo pra vocês chutarem. E o tamanho do prejuízo, também.

Qual o sentido disso?

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Muita gente defende simplesmente o fim dos estaduais. Em outros tempos, eles eram mais valorizados até do que os torneios nacionais - estes mesmos que Palmeiras, Santos, Fluminense e companhia querem agora que sejam reconhecidos como equivalentes ao atual Campeonato Brasileiro. Hoje em dia, não é mais o caso. A média de público do Carioca do ano passado ficou em 7.245 pagantes por jogo - 10 mil abaixo da média do Brasileiro, e o número ainda é enganoso porque inflado pelos jogos de Maracanã lotado das finais. A enorme maioria das partidas, na verdade, é disputada em estádios vazios como o de Mesquita 1 x 1 Madureira, pelo campeonato do ano passado - 49 pagantes. Isso é prejuízo pra todo mundo.

Não acredito que a solução seja simplesmente acabar com estes campeonatos. O Brasil é um país continental, com uma enorme quantidade de clubes considerados grandes por suas conquistas regionais. Os times precisam destas rivalidades locais para construírem suas marcas. Além disso, olhando o futebol como atividade econômica, não é possível pensar apenas nos clubes grandes das principais capitais para montar o calendário; os clubes menores, ou os grandes de centros menos valorizados, também são importantes para empregar jogadores, técnicos, preparadores físicos, médicos, juízes - e jornalistas, narradores, comentaristas, faxineiros, maqueiros, enfim, movimentar a economia.

O que não dá é continuar com torneios com tantos jogos desimportantes para todo mundo, fontes de prejuízo para grandes e pequenos. Acabo de ler, no blog de Cosme Rímoli, uma entrevista do presidente do Bragantino afirmando que a situação do Estadual é péssima para os pequenos. E isso porque o Bragantino ainda disputa a série B do Brasileiro e tem compromissos ao longo de todo o ano. 

Ora, se não é bom para eles e todos sabem que não é grandes coisas para os grandes, o estadual é bom pra quem? 

É claro que a gente sabe a resposta - para as federações e seus dirigentes, que vivem disso. Mas esta é uma situação que não se sustenta no mundo capitalista-globalizado-neoliberal-etc. e tal em que vivemos. Se forem um pouquinho só espertos, mesmo estes cartolas perceberão que o modelo precisa mudar.

Minha sugestão é a substituição da Copa do Brasil atual - um torneio inchado, em que as primeiras fases não despertam interesse nenhum e fazem com que os clubes grandes viajem longas distâncias para partidas sem sentido - por uma estrutura que transforme os estaduais em classificatórios para os regionais (Rio-São Paulo, Sul-Minas etc.), com estes levando os primeiros colocados para uma Copa do Brasil menor e muito mais interessante. Isso manteria vivas as rivalidades estaduais e regionais, espalharia decisões com mata-mata entre rivais ao longo do ano  e daria sentido a campeonatos hoje completamente desvalorizados. Os clubes do Norte, por exemplo, ainda teriam a chance de disputar lugar numa competição realmente interessante, entrando perto da disputa por um título nacional com os maiores clubes do país - em vez de só se contentarem em ver jogos dos grandes contra suas equipes em jogos de primeira fase, encarados por Flamengo, Fluminense, Corinthians e Inter apenas como "bater em bêbado".

É uma idéia, que pode ter vários desdobramentos - dá pra rabiscar um bom modelo de calendário em cima disso aí. Mas com certeza, outras soluções também são possíveis. Do jeito que está é que não faz sentido algum.

Um comentário:

Diana Gondim disse...

até onde eu me lembro, você é o cara sobre o qual eu fiz um post dizendo que não sabia como conseguia dar conta de tudo o que fazia! ihahiahiahaiahi sério, nem fico ofendida, eu nao me comparo com vc!!! XD