Por que o Flamengo resolveu abrir concorrência para o fornecedor de camisa?

Até hoje, a informação que havia sobre a questão do fornecimento de material esportivo para o Flamengo era: 

- Há uma disputa judicial em andamento com a Nike, em que o Flamengo teria a intenção de romper o contrato em vigor antes de seu fim, no meio deste ano.

- Na pior das hipóteses, ao fim do contrato, passaria a valer o acordo anunciado anteriormente com a Olympikus, divulgado como "o maior da América Latina". O próprio diretor de marketing do clube, Ricardo Hinrichsen, falou comigo quando conversamos no fim do ano passado como se a entrada da Olympikus fosse uma certeza - isso nunca foi posto em dúvida.

- A única possibilidade, remota, da Olympikus não se tornar a fornecedora oficial do Flamengo era o Flamengo perder a disputa na Justiça com a Nike e a empresa americana exercer seu direito de prioridade na renovação - mas, para isso, eles precisariam no mínimo igualar a oferta de sua concorrente brasileira.

No entanto, eis que surge um fato novo: o Flamengo abriu, em seu site oficial, uma espécie de licitação para receber propostas de quaisquer empresas de material esportivo que queiram fazer contrato com o clube. O novo acordo com o vencedor do processo valerá a partir do meio do ano até a metade de 2011. E a Nike continua tendo o direito de igualar a proposta vencedora para permanecer fabricando o famoso Manto Sagrado.

Fica a pergunta: por que essa mudança de posição do Flamengo, que antes dava como certo o contrato com a Olympikus e agora resolveu abrir concorrência?

Há duas opções:

- O clube, sem dinheiro, resolveu que deve receber mais pelo contrato - e a Olympikus não aceitou aumentar o que ofereceu. Não é o que eu acredito. Primeiro, porque se o acordo era mesmo "o maior da América Latina", não seria viável querer aumentar o valor em um momento em que toda e qualquer empresa do Mundo está de carteira fechada, esperando a crise passar. Segundo, porque por mais que esta diretoria não tenha a menor vergonha de partir para o confronto com seus parceiros, patrocinadores e fornecedores, seria algo de inacreditável resolver tomar uma atitude tão pouco amistosa com uma empresa com quem mal iniciou uma relação, negociou um enorme contrato e que se viu prejudicada por uma trapalhada do próprio jurídico rubro-negro.

Se a Olympikus mantinha a proposta de pé, e a proposta era tão boa quanto falavam - a ponto de partir pra essa briga toda com a Nike -, não dá pra imaginar que o clube resolvesse partir pra briga assim

- A Olympikus deu pra trás. É isso: crise mundial, dinheiro em falta, o Flamengo de pires na mão - e eles resolveram que não devem nem precisam desembolsar tanto dinheiro assim. E aí o clube resolveu que vai ao mercado pra conseguir o melhor acordo possível. É essa a hipótese em que eu acredito.

Pode ser ainda alguma manobra legal qualquer, algo pra deixar claro que está dando à Nike a chance de renovar seu contrato, alguma coisa por aí. Mas não me parece que seja. Bastaria uma notificação formal e privada à empresa americana para isso.

Vamos ver no que vai dar.


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Lendo o edital, dá pra ver que o clube quer manter diversos aspectos do contrato anunciado com a Olympikus. Por exemplo: a nova fornecedora deverá assumir as FlaShops nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (o contrato com a Roxos & Doentes é apenas para as regiões Sul e Sudeste), além de montar uma nova megaloja na Gávea. Também deverá adiantar o dinheiro para a construção do Museu do Flamengo.

Há ainda outros detalhes interessantes. O edital pede dos concorrentes um esforço para o desenvolvimento de uma réplica da camisa oficial pelo menor preço possível - ou seja: o clube pretende lançar uma nova versão de seu uniforme a preços populares. Além disso, na descrição do número de peças que o clube deve receber do fornecedor dentro do contrato, há um número de 29.816 camisas para o programa de Sócio-Torcedor. 


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E qual seria a possibilidade de um processo desse ser aberto para conseguir uma empresa privada para ser o patrocinador principal do clube? Afinal, até agora nada do contrato com a Petrobras entrar em vigor, devido à tradicional falta das certidões negativas de débito com o Estado. 

E a estatal segue ganhando propaganda grátis do Flamengo.

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