Brasileiro 2008 - 33a rodada - Flamengo 2 x 2 Portuguesa

Sinceramente, dá até preguiça e desânimo de fazer quaisquer considerações técnicas ou táticas sobre o tenebroso jogo de ontem.  Mas vamos lá.

O time ontem lembrou alguns dos grandes momentos da história do Flamengo. Do Aterro do Flamengo. Foi, na maior parte do tempo, um time de pelada. 

Uma zona completa, criada a partir de um esquema que eu diria que é revolucionário: são quatro zagueiros fixos, sendo que dois são volantes improvisados (Toró e Jaílton); dois laterais/alas/meias, que podem defender e atacar tanto pelas laterais quanto pelo meio do campo, sem lugar definido para nada (Juan, especialmente, ontem passeou pelo campo sem nenhum compromisso com qualquer posicionamento, de maneira constrangedora); dois meias que, coitados, têm que fazer todo o vai-vem sozinhos; e dois atacantes lá na frente, esperando que, com tudo isso, a bola lhes chegue em condições. Obina corria feito um louco pra marcar a saída de bola, mas ficava lá na frente; Marcelinho ainda resolve recuar mais pra buscar a bola, mas erra tudo o que tenta. É onde se chegou com a obsessão em armar o time em função de seus "laterais".

Como os jogadores do Flamengo são tecnicamente melhores que os da maioria dos adversários, quando o oponente recua, eles conseguem se colocar mais à frente, pegar a bola no campo de ataque e até criar jogadas. Nos primeiros 20 minutos de jogo, foi o que aconteceu. O Flamengo controlava a bola, conseguia variar as jogadas de lado, dominava o jogo. Mas, no duro, fez seu gol em sua única conclusão. 

A partir da metade do primeiro tempo, foi ficando claro que a Portuguesa era um time muito mais arrumado em campo. E, à medida em que passou a marcar mais à frente, ficavam claras as dificuldades que o Flamengo tinha para conseguir sair jogando. E tem sido assim em todas as partidas: quando o adversário espera o Flamengo, o Flamengo consegue jogar; mas, quando o time é marcado em seu campo, fica em dificuldades e apela para os chutões pra frente. Basta lembrar do primeiro jogo com esta formação, nos Aflitos, contra o Náutico. Ou o da última rodada, contra o Vitória. 

Para o segundo tempo, Kléberson saiu para a entrada de Fierro, substituição aplaudida pela torcida - mas que não adiantou nada. E eis a minha impressão: ninguém que entrar no lugar de Kléberson ou Íbson, que não seja Zico ou Pelé, vai fazer diferença. Os dois andaram sendo perseguidos com vaias e quem entrar em seus lugares também vai ter problemas. Simplesmente porque eles têm que fazer sozinhos o trabalho que, em qualquer time, é feito pelo dobro de jogadores. Toró e Jaílton recuaram para a zaga, Léo Moura e Juan também não são meias e, no fim, o Flamengo joga com apenas 2 jogadores no meio-campo. Difícil dar certo.

Pra completar, junte a esta desorganização uma certa acomodação do time, que parecia acreditar que a vitória estava garantida com aquele 1x0 e dedicava-se a enrolar o jogo. A Portuguesa voltou do intervalo melhor e, pra quem estava no Maracanã, o empate era questão de tempo. Ele veio - e também a virada, em um lance simbólico do que era o time: Toró marcava no lugar de Juan, o cruzamento foi feito com tranquilidade e Athirson - Athirson! - fez sem dificuldades o que deve ter sido o seu primeiro gol de cabeça na vida.

Depois disso, a Portuguesa voltou a recuar e cedeu o domínio ao Flamengo novamente. Mas o time era tão desorganizado que o empate acabou sendo mesmo inesperado. Nada indicava que aconteceria, e a impressão era que estava mais fácil a Portuguesa ampliar o placar em um contra-ataque. Mas, depois que surgiu o gol de Maxi, foram alguns minutos de raça redobrada do time para, no abafa e com o apoio da torcida, buscar a virada. Mas não houve tempo - e Obina ainda fez a asneira de deixar o time sem centro-avante, sendo expulso em mais uma daquelas confusões inacreditáveis pra buscar a bola dentro do gol. Quando alguém vai avisar que os gandulas também têm bolas? E que não adianta muito correr pra colocar ela no meio, já que quem vai dar a saída é mesmo o adversário?

O estádio não ficou lotado, mas foram mais de 40 mil rubro-negros pagando ingresso para mais uma atuação triste do Flamengo em seu estádio. Vai ser duro convencer boa parte desses a voltar lá ainda este ano. A não ser que um festival de zebras improvável aconteça daqui pra frente, a vaca foi pro brejo. E fazer o torcedor se sentar na arquibancada pra assistir o Flamengo levar gol de Athirson é imperdoável.

1/11/2008 - 18h30 - Flamengo 2 x 2 Portuguesa
Maracanã, Rio de Janeiro - RJ
Renda/público: R$ 691.387,00 / 41.332 pag.

Árbitro: Heber Roberto Lopes (Fifa-PR)
Auxiliares: Aparecido Donizetti Santana (PR) e José Carlos dias Passos (PR)
Cartões amarelos: Everton, Maxi(FLA); e Bruno Rodrigo (POR)
Cartões vermelhos: Obina (FLA), 39'/2ºT; Patrício (POR), 39'/2ºT

Gols: Fábio Luciano, 5'/1ºT (1-0); Jonas, 9'/2ºT (1-1); Athirson, 13'/2ºT (1-2); Maxi, 38'/2ºT (2-2).

Flamengo: Bruno, Jaílton (Maxi, 23'/2ºT), Fábio Luciano e Ronaldo Angelim; Léo Moura, Toró, Ibson, Kleberson (Fierro, intervalo) e Juan; Marcelinho Paraíba (Everton, 17'/2ºT) e Obina. Técnico: Caio Júnior.

Portuguesa: Gottardi, Bruno Rodrigo, Erick e Ediglê (Hallison, 26'/1ºT); Patrício, Gavillán, Rai, Preto (Dias, 36'2ºT) e Athirson; Jonas (Héverton, 29'/2ºT) e Edno. Técnico: Estevam Soares.

4 comentários:

Saulo disse...

Eu até falei que a Portuguesa ia dar trabalho ao Flamengo porque está tentando fugir do rebaixamento e o Flamengo não jogou muito bem.

Anônimo disse...

Irretocável André! Mandou muito bem.

Cabron disse...

Falou tudo André.

Pior ainda é ter que aturar o nosso pseudo-técnico com papo de 'melhor do Rio'!

[]'s

Raphael Perret disse...

Boa análise, André, há tempos venho batendo na tecla de que falta meio-campo no Flamengo. È um buraco enorme entre zaga e ataque. E aí não dá mesmo pra Obina e MPB tirarem leite de pedra.

Sobre o Athirson, sejamos justos. Seu gol de ontem foi bem semelhante àquele que, talvez, tenha sido seu último gol pelo Flamengo: no Palestra Itália, em 2004, na vitória por 2 a 1 sobre o Palmeiras, em que ele tb recebe cruzamento da direita e cabeceia no canto esquerdo, no contrapé do goleiro Sérgio. Foi o gol da vitória, que deu um senhor alívio ao Flamengo que, com o resultado, escapava quase de vez do rebaixamento.