Pela sobrevivência no ano que vem

Saiu no Lance a notícia, com um texto meio truncado e esquisito, de que o Flamengo está convivendo com o atraso de salários. Algo triste de se ler, é claro, mas previsível. Afinal, a imprensa já tinha soltado antes que a Petrobras não tem pago o patrocínio em dia ao clube, por algumas pendências. E, se o dinheiro não entra... Não tem como sair.

É cansativo ler este tipo de coisa sobre o Flamengo, e é claro que pode atrapalhar num momento de decisão - mas que se saiba que isso não é exclusividade da Gávea. No Palmeiras, por exemplo, a diretoria admitia, na matéria sobre a situação fiananceira do clube exibida na ESPN Brasil, a possibilidade de novos "pequenos atrasos" nos pagamentos até o fim do ano. O blog Olhar Crônico Esportivo mostra que, até o fim do ano, a única receita prevista para o Verdão é a bilheteria dos jogos - todo o resto já foi adiantado, incluindo boa parte das receitas de TV de 2009.

No mesmo blog, há a afirmação que estes adiantamentos do dinheiro da Globo do ano que vem já foram feitos pelo Flamengo - e por Corinthians (que não tem mais quase nada a receber até o fim do ano que vem), Botafogo, Vasco (que deve R$55 milhões à Globo), Atlético-MG (que precisava de R$18 milhões com vendas de jogadores este ano e conseguiu um sexto disso), Cruzeiro, Portuguesa, Fluminense (que não conseguiu cumprir o acordo que tinha com o TRT e voltou a conviver com penhoras de suas receitas para pagar dívidas trabalhistas), Santos.

O Botafogo convive com atrasos de dois meses e Bebeto de Freitas fez com que sua diretoria fosse a única a não dar declarações para a série da ESPN Brasil - pois "é público que o clube está quebrado". Tem eleições ainda este ano por lá e a repercussão de uma matéria mostrando o tamanho do buraco não seria boa. Se outro dia mostrei aqui que o Flamengo ainda teria uma dívida considerável ainda que vendesse tudo o que tem para pagá-la, talvez seja reconfortante saber que podia ser pior: o total do que o Botafogo deve equivale a 340% do seu patrimônio.

No meio disso tudo, há a crise mundial, o dólar subindo, os bancos se recusando a dar empréstimos pra todo mundo. E o efeito Timemania - aquela história de que, ano que vem, os clubes vão ter que começar a abrir a carteira pra completar as parcelas de suas dívidas com o Estado, já que a arrecadação da loteria está bem abaixo do previsto. O Atlético calcula que o pagamento em 2009 pode ficar em R$300 mil por mês, ou R$3.600.000 no ano. E isso neste cenário em que o dinheiro da TV não vai entrar, ao menos não inteiro, já que já foi adiantado pra fechar buracos deste ano. A diretoria mineira, assim como a do Grêmio, já fala em ir ao governo federal para negociar um aumento do tempo de carência. 

Vencer o Brasileiro, ou ao menos ganhar uma vaga na Libertadores, não é só questão de realização pessoal dos jogadores ou alegria para as torcidas. A chance de ganhar um troco na Libertadores e ter uma exposição maior para possíveis patrocinadores e parceiros pode ser algo essencial para a sobrevivência financeira dos clubes no ano que vem.


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O link pra assistir a todas as matérias da série O buraco negro do Futebol - A grana dos clubes, mostrando como a vida está difícil pra todo mundo e muito poucos têm o que comemorar, é este. A última parte foi exibida na segunda-feira, falando justamente da preocupação com a Timemania para 2009.

Atualizando: No Futebol & Negócio, um texto novo falando sobre os possíveis impactos da crise financeira mundial sobre o futebol brasileiro.

Um comentário:

vôo do urubu disse...

A cada entrevista q se ouve do Márcio Braga, pensa-se q ele é presidente de um clube europeu ou q é doido de pedra.

Saudações rubronegras!