O buraco negro do futebol - a grana dos clubes

A ESPN Brasil está exibido no Sportscenter, todo dia, uma série de matérias sobre a situação financeira dos grandes clubes brasileiros. A abertura foi mostrando a dificuldade geral: quase todos os clubes fecharam 2007 com prejuízo; boa parte teria patrimônio líquido negativo – ou seja, mesmo que vendessem tudo o que têm, não pagariam as dívidas -, mas escaparam disso nos balanços fazendo reavaliação pra cima de seus bens (o Flamengo, que não o fez, tem mesmo o patrimônio líquido negativo, assim como o Botafogo); e todos ainda são extremamente dependentes de venda de jogadores pra fechar as contas.

Mas, depois disso, as duas matérias seguintes foram falando dos cases de sucesso financeiro recentes no futebol brasileiro: Cruzeiro, São Paulo e Internacional. Embora os três também tenham a venda de atletas como grande fonte de receita, estão buscando outras alternativas para se sustentar e vêm apresentando lucros nos últimos anos. O Cruzeiro, por exemplo, montou um grande departamento de marketing, ocupando um andar inteiro de sua sede.

O São Paulo aposta muito no Morumbi. Na matéria, citam o grande crescimento da receita com camarotes; mas, além disso, eles têm o plano de transformar o anel de baixo do estádio em um espaço de convivência para além dos dias de jogos; já inauguraram um bar temático que dá pro campo e vêm aí uma mega-livraria e cinemas. O Inter, da mesma maneira, projeta cada vez mais receitas com o seu patrimônio, em especial o Beira-Rio (embora falem em ter hotéis e até uma marina para gerar dinheiro).

Ambos se preparam pra seguir a tendência dos clubes europeus, em especial os ingleses, que têm uma percentagem relevante de seu dinheiro vindo do matchday – ou seja, a grana que vem de seus estádios em dias de jogos. Isso vai além das bilheterias; inclui as lanchonetes, as lojas, as ações de marketing com parceiros. No Manchester United, esse dinheiro representa 42,5% das receitas; no Chelsea, 37,8%. No ano passado, o Flamengo teve uma arrecadação muito acima do seu normal com bilheterias e o percentual chegou a 20% das receitas totais do futebol.

O Flamengo, lamentavelmente, não está preparado para um grande aumento desta percentagem, pois o Maracanã não é seu. O acordo atual, que o prefeitável Eduardo Paes arrumou pra fazer uma média pré-eleitoral com os clubes, é melhor do que o que existia antes para usar o estádio. Mas o uso para ações com empresas parceiras, a receita com praça de alimentação, a instalação de lojas/quiosques de produtos, tudo isso ainda é complicado e precisa ser negociado.

Daí a importância que poderia ter o estádio próprio na Gávea – do qual, ao que parece, já se desistiu; a diretoria divulgou que o plano atual é fazê-lo apenas para 10 mil pessoas e usá-lo para jogos-treinos e partidas das divisões de base, para facilitar as licenças para o projeto de revitalização da sede. De qualquer forma, isso – junto com o museu e a mega-loja anunciados com a Olympikus – pode alavancar as receitas com o patrimônio. É incrível que uma área como a sede do Flamengo, em uma das zonas mais nobres do Rio de Janeiro, ainda apareça no balanço do clube como fonte de prejuízos, e não de lucros.

E alavancar as receitas é algo mais que urgente. A matéria da ESPN sobre o Inter ressalta a atual saúde financeira do clube e exalta os 80 mil sócios – que geram mais de 3 milhões ao mês pro clube, mais do que o contrato com a TV. Mas mostra a preocupação que há por lá sobre o futuro das finanças coloradas a partir do ano que vem, graças à Timemania. Que foi uma solução (o próprio Inter tem dívida de R$150 milhões, a maior parte com o governo, e sem a renegociação que a loteria representou não conseguiria se viabilizar), mas pode ser um problemaço a partir do ano que vem.


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As matérias da ESPN Brasil estão todas indo pro site deles, no dia seguinte à exibição. É só ir no www.espn.com.br/sportscenter. A que vai ao ar hoje à noite é sobre o Grêmio. Que, como o Flamengo, também teve o furacão ISL passando por lá.

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