Jayme assumiu anunciando que pretendia repetir o time o máximo possível, para dar padrão e confiança. Foi o que fez. Na escalação, ainda passou por alguns testes iniciais - João Paulo era lateral com André Santos na meia, Carlos Eduardo chegou a disputar lugar entre os titulares com Luis Antônio. Mas logo ficou claro qual era o time titular. E a maneira do time jogar foi escolhida rapidamente.
Mas que maneira é essa? Como todo time agora parece querer jogar naquele 4-3-3 que se transforma em 4-5-1 (normalmente descrito como 4-2-3-1), já li bastante que o Flamengo de Jayme atua neste esquema, "com Amaral e Luis Antônio de volantes, Elias na meia, Paulinho e Carlos Eduardo abertos um de cada lado e Hernane na frente". Só que esta descrição está muito longe da realidade. Pelo hábito de escalar os times no 4-4-2, muitas crônicas de jogos trazem em suas fichas técnicas o time neste esquema, com Paulinho e Hernane formando o ataque - e também não é exatamente por aí.
Sem a bola, o time joga sim num 4-4-2, mas numa formação não muito comum no Brasil. Por aqui, o normal é este esquema trazer o meio-campo num quadrado (dois volantes e dois meias) ou num losango (um volante fixo atrás, outros dois volantes-meias um de cada lado e um meia de ligação). Jayme armou duas linhas de quatro, daquelas de que já reclamamos muito ao enfrentarmos times dos mais defensivos de nossos vizinhos sul-americanos em jogos de Libertadores. Sem a bola, Luís Antônio e Paulinho se colocam como meias abertos, dando combate pelas pontas, à frente dos laterais.
A vantagem desta formação é que, com ela, é muito fácil compactar as duas linhas e diminuir os espaços para o adversário. E ela não significa necessariamente que o time jogará de forma defensiva. No primeiro tempo de ontem, por exemplo, o Flamengo avançou as duas linhas para marcar no campo do Atlético-PR que, com isso, jamais conseguiu sair jogando com tranquilidade e mal passou com a bola da linha divisória do gramado. (No segundo tempo, sabendo que o adversário precisaria ir atrás de seu gol, Jayme preferiu recuar as duas linhas para seu campo e apostar nos contra-ataques, que começaram a sair com frequência nos 15 minutos finais.)
Reparem que muita gente reclama que Carlos Eduardo marca pouco no meio-campo, mas esta é uma observação na verdade sem sentido: sem a bola ele não se coloca mesmo como um meia, mas como um atacante, com pouquíssima função defensiva, tanto quanto Hernane. Quando Jayme o substitui por Diego Silva, Elias assume sua função mais à frente e também basicamente para de marcar (o que fez um amigo meu xingá-lo revoltado no Maracanã na quarta, dizendo que ele estava "andando em campo", sem perceber que apenas tinha mudado de função tática).
Isso não quer dizer que Carlos Eduardo venha jogando exatamente como um atacante. Quando o time recupera a bola, ele muitas vezes é o primeiro a recebê-la dos volantes, de costas pra marcação, para distribui-la rapidamente para uma das pontas. Depois disso, não se coloca como atacante ao lado do Brocador; joga por trás do centroavante, sendo responsável com Elias pelo giro da bola de um lado para o outro (e por isso muitos que o defendem falam de sua importância na distribuição das jogadas).
No ataque, as jogadas sempre se desenvolvem pelas pontas. Por muito tempo, Léo Moura acostumou-se a ter que resolver sozinho suas jogadas pela direita, tendo o drible como única opção. Em sua melhor forma, era bem sucedido em grande parte das vezes e se destacava, mas com o tempo passando e a explosão diminuindo, isso foi ficando mais difícil e as críticas se tornaram mais frequentes. Agora sua vida está um pouco mais fácil: sempre que pega na bola, Luis Antônio encosta para receber e fazer dupla com o lateral, assim como Paulinho faz do outro lado com André Santos. Eles vão tentando combinar suas jogadas pelos lados; quando não conseguem, entregam para um dos meias - Carlos Eduardo ou Elias -, que fazem o giro para o lado oposto. É este o padrão de troca de passes do time.
Como não tem nenhum meia capaz daquele passe decisivo mais vertical pelo meio da defesa adversária, nem conta com um centroavante lá muito hábil para fazer o pivô em tabelas, o time tem dificuldades para entrar na área adversária quando não consegue encaixar estas jogadas pelas pontas. Pelo meio, os gols costumam sair mesmo em chutes de fora, que se tornaram mais comuns e foram decisivos várias vezes.
É por aí: o time achou seu jeito de jogar e funcionar. Se quiser mantê-lo para o ano que vem, é óbvio que reforços são mais que desejáveis, mas incrivelmente - para o que se pensou em boa parte da temporada - a base até que já está ali.
* * * * * * * * * *
Não se acostumem não, que o blog não voltou. Só não resisti, depois da noite de ontem, a escrever alguma coisa sobre o que tenho visto do time.
Tweet |
11 comentários:
Não voltou mas podia voltar! Excelente análise. Já havia lido alguns "posts" em blogs especializados em análises táticas e nenhuma descreveu tão bem como joga esse Flamengo.
SRN
Realmente, foi uma pena que seja só um post pra matar saudade. Mas fez isso de forma brilhante, Andre. SRN
Como sempre, excelente post, uma pena que não volte a postar com frequência. SRN
Saudade dos comentários do André! E ele não perdeu o jeito...rs
Concordo com tudo, Monnerat. E o esquema do Jayme deu uma sobrevida ao Leo Moura, que passou a se desgastar menos e render muito mais.
Abração!
#VoltaAndré rs
Perfeita a análise!!!
Perfito cara, assim como você me interesso por tática, e por fim vejo alguem que fala a mesma coisa que eu. mas só por curiosidade qual o program você usa pra fazer a "prancheta"?
Photoshop, bicho.
brilhante! exatamente isso. só faltou mais participação de ce10, se o diego ex santos vier e jogar bola fica perfeito.
Melhor análise que li sobre o flamengo, ou melhor, sobre um time, em 2013.
Parabéns André... O blog deixa uma lacuna na net.
nostalgia
Postar um comentário