A Seleção precisa do Neymar e do Ganso do Santos - não os de ontem

Os jogadores mais importantes do esquema de Mano Menezes decepcionaram ontem - e  atuação ruim contra a Venezuela tem muito a ver com isso.




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Não sei o quão próxima está a partida de Neymar para a Europa. Sabemos que um dia ele vai acabar indo, mas por enquanto - embora os espanhois pareçam tratar sua contratação agora como certa -, a diretoria do Santos fala com confiança em sua permanência e ele mesmo diz que quer ficar. E, em meio a esta situação inusitada de ter o melhor jogador brasileiro jogando no Brasil por opção, surgiu a conversa de que Neymar poderia vir a ser o primeiro jogador a ser eleito melhor do Mundo jogando fora da Europa.

Neymar já joga muita bola, não há como negar. A Libertadores que fez este ano pelo Santos foi mesmo impressionante. Mas me parece que há uma pressa em elevar Neymar a um status de superastro mundial para o qual ele talvez não esteja preparado - impressionante a frequência com que estão aparecendo comentários comparando-o a Messi, por exemplo. E acho que isso prejudica seu desempenho na Seleção.

Não falo apenas pelo jogo de ontem: Neymar, na Seleção, sempre me parece um jogador tenso. Logo ele, que no Santos sempre mostrou tanta personalidade tão cedo, com a camisa amarela parece sempre tenso e erra lances que normalmente não erraria por aqui. Ontem, por exemplo, aconteceu até dele sair com bola e tudo pela lateral num lance simples. E, em todos os lances, parece menos preocupado em fazer a melhor jogada para o time do que em mostrar o quanto é bom.

A minha impressão é que Neymar vê a Seleção como sua vitrine para o Mundo, sua oportunidade de provar para o planeta que é mesmo do nível dos maiores - e isso pesa. Quanto menos ele pensar nisso, e mais se preocupar só em jogar sua bola, melhor pra ele.

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Mas não foi só Neymar que decepcionou na estreia pela Copa América. Quase todo o time jogou muito mal. Não foi nada animador.

E eu gosto desta Seleção que Mano Menezes está escalando. Dá pra pensar em uma ou outra alteração, mas não há nenhuma opção absurda e a mentalidade que ele usa para montar o time é elogiável, especialmente depois do tanto que se reclamou da Seleção carrancuda e pragmática de Dunga.

O time teve seus problemas táticos: os jogadores ficaram muito estáticos em suas posições, faltaram jogadas de ultrapassagem entre os pontas e os laterais, havia um espaço grande demais entre os volantes e os homens de frente e mesmo sua proteção à zaga não funcionou bem, a saída de bola foi muito lenta. Mas acho que pesou mais mesmo a má atuação técnica de vários jogadores. Mais do que tudo, a má atuação de Ganso.

Mano tenta usar na Seleção um esquema moderno, que vimos muito na Copa passada e também em alguns times que se deram bem por aqui. É um esquema que ele mesmo conhece bem, por tê-lo usado no Corinthians. E repete a forma de jogar do time mais interessante do Brasil em 2009, o Santos de Dorival Júnior, inclusive repetindo os jogadores que eram a sua base ofensiva: Ganso, Neymar e Robinho. Aproveitar aquele entrosamento é uma boa ideia, especialmente considerando que nem sempre que se reúne a Seleção tem muito tempo pra treinar.

Só que este esquema, pra funcionar, depende muito das características e do rendimento do meia criativo. Era óbvia a importância para seus times de Özil na Alemanha, Snejder na Holanda, Petkovic no Flamengo-2009, Ganso no Santos-2010. Só que Ganso se machucou logo depois da primeira partida de Mano à frente da Seleção e, a partir daí, ele não conseguiu substituto à altura - chegou até a testar Douglas, que usou na função no Corinthians, sem sucesso. Esperava-se então muito do efeito da volta de Ganso.

Só que ontem ele foi muito, muito mal. E se ele não funcionar, a Seleção como um todo vai ter dificuldades pra render bem nesta formação.

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