O que aconteceu com o contrato da Bozzano

E eis que o tal contrato com a Bozzano não foi aprovado ontem, como todos esperavam. Seria, dizem na imprensa, o melhor contrato de patrocínio de mangas no futebol brasileiro. Agora, ele vai ter que voltar pra Hypermarcas, dona da Bozzano, para que eles alterem as cláusulas que empacaram a assinatura - que já está empacada tem algum tempo, na verdade, antes até de ir a votação no Conselho (votação esta que acabou nem acontecendo).

Podem crer que este tipo de coisa, além de evitar que esta grana específica entre nos cofres e ajude no pagamento dos dois meses de atraso dos salários dos funcionários do clube, espanta outros possíveis parceiros. Imagino o que não deve estar pensando agora, por exemplo, o Brunoro, que fez a intermediação para levar a Bozzano para o Flamengo.


Mas afinal de contas, quem é que reprovou o tal contrato? O que aconteceu?

Diz o estatuto do clube que qualquer contrato a ser assinado com valor acima de 500 vezes o preço de um título de Sócio Patrimonial precisa ser aprovado pelo Conselho Deliberativo. É o caso deste contrato com a Hypermarcas - o valor do título de Sócio Patrimonial é, hoje, de R$1.200,00 (ou algo próximo). Ou seja: contratos acima de R$600.000 já devem passar por lá.

O Conselho Deliberativo é formado, em parte, por sócios eleitos a cada três anos para o seu "corpo transitório". Mas há também membros vitalícios - e é mole ser membro vitalício: basta comprar um título de Sócio Proprietário, esperar dois anos e dizer que quer entrar pro Conselho. O famoso Arthur Muhlemberg, por exemplo, titular do Urublog, é membro do Conselho. Assim como João Henrique Areias. E, pelo que ouvi falar, o ator Milton Gonçalves. Tem gente de todo tipo lá. Se você quiser, e estiver disposto a pagar R$6.450,00 à vista pelo título de Sócio Proprietário, pode ir lá apitar também. Aliás, parece que apenas 60 conselheiros estiveram na sessão de ontem - e olha que havia um contrato importante a ser votado. É mole pra qualquer um que realmente queira entrar neste pequeno universo.

Pelo estatuto, o Conselho tem algumas comissões permanentes para assessorá-lo nas suas decisões. Uma delas é a de "assuntos jurídicos", que tem seus membros nomeados pelo próprio presidente do Conselho - que hoje é Walter D´Agostino, que não sei se simpatiza com a oposição, com a situação ou muito pelo contrário. Trata-se de um desembargador de Justiça (ou seja: "assuntos jurídicos" é a área dele), condecorado pela Assembleia Legislativa do Rio com a Medalha Tiradentes e Grande Benemérito do clube.

Antes de votarem este contrato, ele passou por esta Comissão de Assuntos Jurídicos do Conselho Deliberativo. Algumas restrições foram colocadas e o contrato foi e voltou entre o departamento de marketing do Flamengo e a Hypermarcas algumas vezes até a sessão de ontem do Conselho. Mas, ao que parece de última hora, um empecilho final foi colocado: há uma cláusula de preferência de renovação para a Bozzano. Não li o contrato, mas este tipo de cláusula é comum nestes acordos e diz que a empresa tem o direito de renovar o contrato ao seu fim, pelo maior valor que o clube conseguir no mercado - ou seja: se aparecesse uma outra empresa querendo pagar mais pelo patrocínio da manga, o Flamengo deveria levar a proposta à Bozzano para eles dizerem se aceitam pagar o mesmo valor ou não. Não haveria obrigação do clube de renovar por um valor menor do que o que conseguiria por aí.

No entanto, esta Comissão de Assuntos Jurídicos do Conselho Deliberativo viu problemas na cláusula - achou que ela pode atrapalhar o clube se aparecer mais na frente uma empresa querendo comprar o espaço inteiro da camisa por um valor maior (o que pode ser o caso - só alguém com acesso ao contrato e conhecimento legal pra dizer). E, ao que parece, este parecer contrário inviabilizaria a aprovação do contrato na votação. Nessa, o presidente Delair Dumbrosck se viu obrigado a retirá-lo da pauta da reunião - ele nem foi votado pelos conselheiros, portanto. A tentativa agora será conseguir que a Hypermarcas aceite mudar a cláusula de preferência, antes de levar novamente o contrato para o Conselho. Na melhor das hipóteses, isso custará algumas semanas antes do Flamengo começar a receber o dinheiro; na pior, a empresa vai se emputecer e desistir do acordo, que já se enrolou mesmo por muito tempo.

É dose, mas é algo que o Flamengo está sempre sujeito a passar, por sua caótica estrutura democrática interna.

Ainda mais - vai virar bordão aqui do blog isso... - em ano de eleição.

7 comentários:

dani disse...

Não sabia dissso e gostei de saber...

Abraço,

Dani

www.primeiropenta.net

Ninho da Nação disse...

Aguardo ansiosamente em janeiro uma empresa querer patrocinar mangas, costas e frente por um puta valor...

gilberto disse...

Monnerta,

muito bom o post. Apenas duas observações:
1- A negociação entre o CRF(Presidência e MKT) e a Bozanno se encerrou apenas na 4º(1/7). E imediatamente encaminhado às comissões para análise. São as comissões de finanças, Jurídica do Conselho Deliberativo e ao Conselho Fiscal. Na segunda(6/7) só faltava o parecer da Comissão Juridica. As outras comissões sinalizaram que iriam aprovar. Desta forma apenas 60 conselheiros foram ontem. Era aprovar e pronto. Mas a Comissão Juridica levantou esta questão da prioridade e o contrato não foi aprovado.
2- Não tenho tanta certeza que seja usual os contratos terem esta cláusula de prioridade.

André Monnerat disse...

Gilberto, é um tipo de cláusula comum sim.

O da Nike com o Flamengo, por exemplo, tinha.

Assim como o da LG com o São Paulo até o ano passado - parece que pra este ano, o São Paulo retirou esta cláusula.

Mas enfim: não é nada incomum.

Flavio Souza disse...

Não entendi este blog. Justamente quando o Conselho age como tal, impedindo uma cláusula que poderia ser danosa ao clube vcs reclamam??

Ora, se a empresa está interessada banca a parada. A visibilidade do Flamengo vale muito mais que 2 milhões, que se tornou uma quantia tão necessária justamente pela total falta de capacidade da Gestão Atual, completamente irresponsável e suspeita no trato do dinheiro do Flamengo.

André Monnerat disse...

Flavio, por favor - repare que eu coloquei no texto que pode ser que a tal cláusula criasse problema na frente mesmo. Eu não sei afirmar - nem sou advogado, nem li o contrato.

Se você afirma com tanta certeza que ela seria danosa, imagino que tenha tido acesso ao contrato, certo?

Tem aí o texto pra passar pra gente?

O problema maior nessa história não é nem o veto em si, e sim como se dá o processo lá dentro.

Flavio Souza disse...

Esta cláusula poderia inviabilizar uma possível tentativa de alguma empresa patrocinar toda a camisa, pq esta teria que dizer qual seria o preço da manga neste contrato "full". E nesta, a Bozzano poderia dizer que pagava o preço e assim a tal empresa do contrato "full" desistiria do contrato.

Simples assim. E para que fazer um contrato que amarre o Flamengo a uma empresa? Porque defender isto?

Acho o conselho do Flamengo caquético mas nesta está coberto de razão.

E não, assim como vc, não vi o contrato, só vi as razões do Conselho sobre o assunto e, sendo isso mesmo, o Conselho (enfim) está coberto de razão.