Sede social e esportes olímpicos do Flamengo tiveram déficit de R$38 milhões em 2010

Aumento dos gastos nestas áreas foi quase igual ao corte de despesas do futebol.


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A imprensa, afinal, começou a falar do balanço do Flamengo. O Lance citou, com dados genéricos, o aumento da dívida do clube; já O Globo fez uma matéria melhor, com Patrícia Amorim dando explicações e abrindo espaço para algum otimismo. Seria bem melhor se a diretoria desse suas explicações mais completas, de modo oficial, junto com a publicação do documento. Isso ainda será cobrado internamente pelos conselhos do clube e vamos acompanhar como a diretoria vai agir.

Um dos pontos que mais chama a atenção no balanço é o enorme crescimento de gastos no esporte amador, em contraste com o corte no futebol. Patrícia explica que não foi "só" uma questão política, mas também uma correção de absurdos que encontrou, como diversos atletas com salários atrasados. Especialistas em contabilidade, ao lerem o balanço, poderão explicar melhor se este tipo de pagamento pode estar inserido dentro dos R$22,8 milhões de gastos de pessoal com o esporte amador que o balanço aponta, R$10 milhões a mais do que no ano anterior.

Vamos então a alguns pontos referentes então ao clube social e ao esporte amador:

- O aumento no número de sócios que Patrícia Amorim andou comemorando ao longo do ano passado, depois das melhorias anunciadas na Gávea, não se transformou em crescimento de receitas. Estando corretos os números divulgados pela diretoria anterior no ano passado, somando mensalidades do clube e das atividades esportivas oferecidas na sede, houve uma queda na arrecadação de mais de R$900 mil de 2009 para 2010.

Como comparação – já cansativa, até -, o Inter teve R$39 milhões de receita anual com seus sócios, contra R$7,1 milhões do Flamengo. Mesmo o São Paulo, bem menos badalado nesta área, conseguiu R$20,5 milhões em receita somando seu quadro social e o sócio torcedor. Mas é bom dizer que o Vasco, que tem estádio próprio e lançou seu sócio-torcedor com direito a descontos e prioridade nos ingressos dos jogos, só conseguiu no ano passado R$3,7 milhões com seus sócios. Ou seja: dá pra fazer muito mais, tem que fazer muito mais, mas não existe fórmula mágica.

- Já os esportes amadores tiveram um crescimento de receita considerável, de R$3 milhões (ou 83%). Um terço deste crescimento se refere ao contrato da Olympikus; o resto é de “licenciamentos e royalties”. Embora isso não esteja explícito no balanço, devem ser contratos como os fechados com Sky, BMG e Locanty para patrocinar o basquete e outras modalidades.

- Só que o crescimento das despesas foi muito, muito, muito maior que o das receitas: foram R$10 milhões a mais de gasto de pessoal e R$10 milhões a mais em “despesas gerais". Ou seja: um aumento de gastos de R$20 milhões com Marcelinho, Cielo, Jade e companhia. Considerando receitas e despesas desta área, houve um déficit de mais de R$38 milhões, contra cerca de R$22 milhões de 2009 - um aumento de 72% neste déficit, que comeu quase todo o superávit de R$41 milhões do futebol.

Olhando os números, a conclusão a que se pode chegar é que Patrícia Amorim fez exatamente o que se temia e que a diretoria negava que iria acontecer: tirou dinheiro do futebol pra colocar nos esportes olímpicos. Afinal, o aumento de gastos das outras modalidades foi praticamente igual ao corte de R$19 milhões em despesas com o carro-chefe do Flamengo. Será que a torcida ou mesmo os sócios aprovariam esta política se ela tivesse sido colocada em votação antes?

Ela pode até justificar, dizendo que estas áreas do clube precisavam de investimento para poder, em seguida, começar a andar com as próprias pernas. Porém, não parece ser isso o que está acontecendo, já que ainda não vemos novas receitas sendo criadas para cobrir o rombo criado.

9 comentários:

Bosco Ferreira disse...

Será que esses números tão preocupantes já não são suficientes para mudarem os rumos do planejamento do clube? Dá um tempo nos esportes olimpicos até que se crie alguma forma de gerar receitas para eles?

O que não pode é quebrar o futebol por conta de uma olimpíada que não ganharemos nada além de míseras medalhas que ficarão com os atletas, não com o clube.

Ricardo Martinelli disse...

André esses 10 milhoes de despesas gerais nao seriam as parcelas em atraso?

Marcos André Lessa disse...

E pensar que o Zico foi enxotado pela Patricia por um troço com o CFZ que nunca foi provado...

Elton disse...

Este é o maior problema. Meteram a mão no dinheiro do futebol para bancar esportes olímpicos.

Quanto a dívida de curto prazo, eu acho que é herança dos mandatos anteriores. Dívidas que tinham prazo para fim de 2011 desde antes. Não acredito que foi dinheiro gasto em 2010, pois houve superavit.

As dívidas totais tb são por causa dos juros de dívidas passadas, também herança de mandatos anteriores.

Se eu estiver certo, não vejo tanto problema assim.

Luis disse...

É inviável um clube de futebol profissional ter esportes olímpicos. Quase todos são amadores e de baixo retorno. A obrigação desse tipo de investimento é do governo federal. Com toda a franqueza, acho que o Fla deveria se limitar a ter os esportes que tivessem escolinhas lucrativas e de alguns poucos esportes mais tradicionais. Time de cima/adulto, só Basquete. E deveriam reformar o estatuto para tirar a obrigatoriedade de ter remo.

Romulo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Romulo disse...

existe uma grave distorção.
o flamengo é a marca esportiva mais forte da américa latina. a mídia brasileira não dá a mínima visibilidade para os esportes olímpicos, então ao investir neles o flamengo aporta sua marca como valor e acaba bancando os campeonatos em vez de lucrar com eles.
a idéia de pausar os esportes olímpicos seria boa, se fosse uma forma de protestar contra sua pouca visibilidade na grande mídia.
para não pausar, o importante seria estruturar campanhas com os atletas para atrair sócios ao clube e entupir as escolinhas de praticantes - jovens ou adultos. deste modo, poderíamos lucrar com esses esportes aumentando os ganhos no quadro social.

Luiz Filho disse...

A solução é mais simples do que se imagina. É a autonomia gerencial que agente tanto pede para o futebol também para os esportes olímpicos. No Flamengo tudo se resolve, ou não, em bloco nenhum esporte pode "se virar" sozinho. Não tenho dúvidas que teriamos times fortes rentáveis em Volei feminino, basquete masculino, futsal, remo, natação, judô, futebol feminino, futebol de areia, entre outros se cada um tivesse de responder por si.

Hoje não há espaço para o esporte "amador". Esporte é uma atividade profissional em todo o mundo e no brasil fica-se atrás de vantagens e "molezas". Além disso o Flamengo é um clube de tradição poliesportiva como poucos no planeta e posso citar clubes brasileiros entre estes poucos no mundo com esta vocação: Flamengo, Vasco, Pinheiros, Minas, Real Madrid, Barcelona, Fenerbaçe. Sabe qual a diferença de Flamengo e Vasco para os outros? A falta de autonomia entre os esportes que também resulta em um quadro social muito inferior a estes citados.
O Flamengo é um gigante amarrado com este estatuto velho e imóvel. Se separamos esportes olímpicos, patrimônio, clube social e futebol já seria um grande passo!

André Monnerat disse...

Ricardo Martinelli: não, os gastos gerais não são de dívidas anteriores. Esta linha se refere mesmo só a gastos do exercício de 2010. Dívidas anteriores seriam lançados em outro lugar do balanço.

Elton: a dívida de curto prazo não é só de mandatos anteriores. Ela existia, era grande, mas aumentou muito, num ritmo bem maior do que no ano anterior - mesmo com o superávit. Pode-se explicar por juros em cima da dívida antiga e por novos empréstimos em condções piores sendo pegos pra pagar compromissos imediatos. Enfim: não é só herança, é fruto também desta administração.

Rômulo: seu comentário sobre o Flamengo alavancar estes outros esportes, sem ter retorno, é perfeito!