Onde a gestão Patrícia Amorim errou - ou não (Parte 2)

Segundo esta série retrospectiva, alguns tópicos sobre o futebol - mas também sobre o basquete e a administração. Senta que lá vem história:


Não errou: "desmonte da base campeã brasileira"
Esta é uma crítica comum. Mas vamos conferir: dos titulares no título de 2009, continuaram no Flamengo neste primeiro semestre Bruno, Léo Moura, Álvaro, Angelim, Juan, Maldonado, Willians, Petkovic e Adriano. Não é a base campeã? Pois todos estes estavam sob contrato no último jogo do Flamengo, contra o Goiás, sábado passado.

Quem saiu foi Éverton, Zé Roberto e Aírton. O clube não tinha os direitos sobre nenhum dos três (tinha algum sobre Aírton, mas não por inteiro) e a reposição até foi feita, embora os nomes possam ser discutidos.

Dos que já saíram ou podem sair agora: Álvaro estava emprestado, não é nenhuma unanimidade e até seguiria, se não fosse o último ato de indisciplina; David também não é garantia de segurança na zaga e também tem a permanência complicada por ser jovem e emprestado por um clube europeu; Adriano não pode ser colocado na conta desta diretoria. Para todos estes, é preciso esperar qual será a reposição. Erros mesmo são Maldonado (com o qual a renovação já deveria estar muito bem encaminhada; perdê-lo por desleixo seria um erro grosseiro) e, em minha opinião, Vagner Love (este bem menos por provavelmente estar de saída, e sim porque me pareceu um investimento equivocado).

Mesmo sem estes, devem continuar Bruno, Léo Moura, Angelim, Juan, Willians, Petkovic. Dos "indiscutíveis" do título do ano passado que aparentemente poderiam ficar sem grandes dificuldades, apenas Maldonado parece mais distante agora. E olha que eu nem seria contra mais uma ou outra mudança na antiga base não.

Creio que houve demora na renovação de contratos, um erro que vem de outros que citei anteriormente - manter Marcos Braz e não ter um plano de transição para o futebol. Mas há uma ansiedade exagerada por notícias sobre o elenco, que inclusive leva pouco em consideração a situação do time na Libertadores, sem saber se seguiria ou não até há pouco tempo. Fora isso, os times que já têm reforços atuando, contratados com a temporada em andamento, são apenas os que participaram do desmonte do Santo André - e o São Paulo com Fernandão, um caso isolado. Todos os demais se movimentam para contratar gente pra depois da Copa do Mundo e poucos nomes foram realmente confirmados. Vale esperar pra ver como o Flamengo e todos os outros irão se movimentar no mercado agora, para ver qual será o efeito prático de tudo isso.

Errou: má avaliação do elenco
O maior problema, no duro, não foi o tal "desmonte da base" - e sim um erro de avaliação em duas grandes fraquezas que o elenco já tinha em 2009 e foram mascaradas pelo título.

O primeiro: não havia um substituto para Adriano. Isso apareceu pouco ano passado, pois Adriano jogou em praticamente todas as partidas - tirando os períodos na Seleção, a única em que não atuou foi contra o Corinthians, na penúltima rodada. Love veio, mas já servia como substituto para Zé Roberto; as outras opções eram Mezenga e Dênis Marques, que já não haviam sido aprovados ano passado, e a utilização de Pacheco no ataque. Como, compreensivelmente, não se fez nenhum esforço para manter Obina (lembram? Ele chegou a voltar no início do ano!), um centro-avante reserva pelo menos um pouco mais confiável deveria ter sido contratado.

O segundo: a falta de opções para a ausência de Petkovic. Isso já havia ficado óbvio em 2009 - desde que ele voltou a ser titular, o time simplesmente não ganhou nenhum jogo em que ele tivesse ficado de fora - e pesou ainda mais este ano, por todos os problemas que ele viveu.

Pesou ainda o grave erro de avaliação da comissão técnica chefiada por Andrade. Com a conivência da diretoria, o treinador não soube priorizar as prioridades e deixou de usar o Estadual para preparar o time para os momentos realmente importantes da temporada - ficou mais preocupado com resultados contra Tigres, Boavista, Bangu e Americano. Maldonado demorou a voltar à sua melhor condição de jogo por isso, não se lidou com o fator Pet da melhor maneira, acreditou-se em Vinícius Pacheco como solução para a criação no meio e opções como Michael e Camacho só começaram a ter mais oportunidades agora, sob pressão e em condições adversas.



Errou: bagunça no futebol
É mais um erro que vem dos anteriores - a manutenção de Marcos Braz, o período sem comando no Futebol...

Mas vale mesmo ressaltar: não é possível que o Flamengo enfrente o tipo de coisa que enfrentou neste semestre. Faltas e atrasos a treinos, jogadores montando programação de carnaval, agressões entre jogadores no vestiário sem qualquer punição, ônibus atrasando pro jogo mais importante do ano...

É óbvio que nada disso é novidade na Gávea - mas e daí? É óbvio que tem que ficar pra trás, e é óbvio também que influenciou nos resultados dentro de campo.



Não errou: a perda do título no basquete
Ganhar e perder é do jogo. O Flamengo perdeu a decisão de um título? Bem, não se ganha sempre. E a derrota rubro-negra aconteceu para um grande time, que investiu mais. E foi no último jogo da série final, na última cesta - assim como havia acontecido nas outras duas derrotas que definiram o campeonato. O trabalho foi bem feito, o Flamengo teve uma grande campanha e não há motivo algum para revolta por conta do resultado final - mas ele está servindo para muita gente que nem acompanha basquete tão bem assim botar pilha contra a diretoria.

Para encontrarem algum motivo para reclamar do trabalho e falar em "culpa" no "fracasso", alguns levantam a saída de Baby - que aconteceu durante o mandato anterior; a atual diretoria pegou o grupo formado, no meio do campeonato. De qualquer forma, o pivô era um jogador caro, que não teve um desempenho lá muito impressionante no Flamengo (que mesmo com ele já dependia demais dos arremessos de fora) e foi pior ainda nesta temporada no Paulistano (li até sobre problemas com cerveja dentro do ônibus do time). Mais do que sua ausência, o Flamengo sentiu falta na final de Alírio e Coloneze, os dois principais pivôs do time, que estiveram machucados ao mesmo tempo.

Mas digamos que a saída de Baby tenha sido definitiva para a perda do título. O que deveria a diretoria fazer - investir caro na contratação de outro pivô indiscutível? Mas "Paty Piscina" não erra ao investir tanto nos esportes amadores? É bom se decidir.

No duro, o trabalho no basquete este ano foi mais tranquilo do que no anterior, sem a mesma profusão de notícias sobre salários atrasados e com dois contratos de patrocínio ao time sendo firmados.



Não errou: marketing
Já ouvi comentários sobre o "imobilismo" do marketing rubro-negro desde que a nova diretoria assumiu. Na minha visão, não é por aí e estão começando determinadas cobranças muito antes do tempo.

Quem assume um departamento como o do Flamengo precisa, antes de mais nada, conhecer a situação. Olhar todos os contratos, todos os acordos, conhecer a equipe que já está lá, as funções de cada um, os procedimentos. Tudo isso leva tempo. As notícias são de que muitos planos já foram feitos e novidades surgirão em breve, a partir do fim da Copa. E o que soube do tipo de visão que os novos responsáveis têm é bem interessante. Críticas pra valer podem esperar mais um pouquinho.

Fora isso: a prioridade inicial do marketing foi fechar contratos de patrocínio. O momento era todo favorável, claro, mas é fato que o Flamengo, ao contrário do que aconteceu ano passado no clube e também agora com muitos por aí, não teve muito tempo de camisa limpa. Este trabalho foi feito dentro do que se esperava, sem problemas, e a promessa é que, pro ano que vem, o Flamengo iniciará as negociações com maior antecedência.

11 comentários:

André Amaral disse...

Essa crítica sobre o "desmonte do time campeão brasileiro" é a mais comum e não reflete muito a realidade.

Como disse outra vez, a base do time foi praticamente mantida para a disputa da Libertadores, e somado ao reforço do Love, que me impressionou muito no começo, mas depois foi tornando um atacante superestimado, porém acima da média aqui no Brasil.

E agora não consigo lamentar a saída do Álvaro, e torço para que David e principalmente Maldonado renovem seus contratos.

Acho que existe um clamor e muitas vezes ficamos presos a "base do hexa" o "esquema do hexa" o que deixa o debate muito limitado.

Andrade realmente não soube planejar bem seu elenco para o estadual e a Libertadores e escolher as prioridades.

E olha o quanto falamos que tinha que colocar o Pet logo pra jogar porque ele seria útil na Libertadores, mas ele ficou naquela de "tira Pet, coloca VP, coloca VP, tira Pet".

Sem falar no bendito esquema do hexa. Com dois atacantes, não tinha como manter o esquema do hexa, e Andrade não soube arrumar a equipe.

Sobre o basquete, muitos falam que tinha que contratar alguém pro lugar do Baby, ok, mas como?

Vale lembrar que a SKY e a BMG só chegaram agora, ou seja, não tinha patrocínio para contratar um grande pivô em janeiro.

Sem falar no ambiente interno que era exatamente esse: "entre contratar um pivô e manter os salários em dia, prefiro que fique a equipe atual e coloque os salários em dia".

E olha que mesmo jogando com apenas um pivô nas finais, o Flamengo quase levou esse Brasileiro, vendemos muito caro essa derrota.

Murdock disse...

Não houve mesmo desmonte da base do time campeão. O que aconteceu foi que jogadores decisivos na campanha não jogaram no mesmo nível esse ano. Álvaro, Pet, Maldonado (desde a contusão) e Adriano não foram tão decisivos quanto no ano passado embora a diferença de técnica do Pet para os outros ainda seja absurda. Até o Bruno que de aclamado melhor do Brasil virou só mais um em quem é fácil fazer gols de falta e tem falhado muito.

Pra mim a bagunça no futebol veio ainda com o MB, da falta do "quem é que manda aqui" quando o Andrade ficou sem pulso, Adriano fazia o que queria, Pet era obrigado a ficar de fora (lembra que o Andrade ia ser demitido se o colocasse em campo?). Boa parte disso aconteceu quando ainda havia uma cabeça no futebol. Talvez ela tenha falhado nessa hora em não chamar a responsabilidade para si antes que a coisa descambasse pra bagunça que foi. O presidente não tem que se meter o tempo todo em todos os departamentos do clube, mas tem horas em que isso é necessário.

Alan disse...

Vamos direto aos pontos:

1 - Manutenção do Maldonado: Ok, fundamental no título ano passado, sem discussão. Mas tal qual Pet, ainda não se reencontrou esse ano. A grande verdade é essa.
Porém, vemos hoje notícias de que o Flamengo negocia com Montillo e (será?) Riquelme. No Brasil, um time não pode ter mais do que três jogadores estrangeiros escalados para um jogo (titulares + banco). Como já renovamos com Pet, e o Fierro deve vazar depois da Copa, sobram duas vagas para Maldonado/Riquelme/Montillo. A questão é ver com quem conseguimos fechar, analisar quem é mais necessário, e cair dentro. Mas simplesmente exigir a renovação dele, sem olhar o que está acontecendo em volta é um pouquinho demais.

2 - Má avaliação do elenco: discordo de novo. Podemos até falar em "contratações que não vingaram", mas má avaliação não. Tanto que trouxemos Ramon e Michael para revezar com o Pet (além de trazer de volta o VP), Rodrigo Alvim para a (há muito) carente reserva do Marrentinho, Fernando para repor a saída do Aírton, e Love (de graça, lembrem-se sempre) para o ataque. A ideia original era que Bruno Mezenga fosse o primeiro reserva (não somos nós que reclamamos da falta de jogadores da base no time principal?), mas não deu certo. Sinceramente, não vejo nenhum erro da parte dela não. Até por que quem definiu estas contratações foi o próprio Marcos Bráz, que (creio) já concordamos que não tinha como ser demitido.

3 - Dizer que é culpa da Patrícia que o Andrade não usou o Carioqueta como laboratório é até sacanagem. Não estou dizendo que você fez isso, mas já vi muita gente boa dizendo. Daqui a pouco vão levar o ditado a sério, e pedir pra ela entrar em campo e bater pênalti.

4 - Bagunça no futebol: mais uma vez, vamos dar tempo a ela. Se alguém aqui já assumiu algum cargo de chefia ou liderança em uma empresa (não ser promovido, mas sim, ser contratado direto pro cargo em uma empresa nova), sabe muito bem que você não pode simplesmente "chegar chegando", impor seu ritmo de trabalho a quem já está lá dentro há mais tempo, e foda-se o mundo. Não é assim que funciona. E podem ter certeza, nem mesmo o Zico vai chegar com o pau na mesa assim tão forte. O trabalho que estava implementado estava dando certo (Flamengo Campeão Brasileiro), e ela manteve enquanto "a bola estivesse entrando". Pois bem, parou de entrar, hora da faxina, e de implementar a própria política. Agora sim as coisas tem que mudar. E não há cinco meses atrás.

5 - Derrota do basquete: sem maiores comentários. Perder é do jogo, faz parte. Ponto.

6 - Marketing: Novos patrocinadores, novos acordos (AMBEV vem aí, TIM parece que também), camisa nova, etc.. Sério que acham que o Marketing tá ruim?

SRN

Elton disse...

Sobre o basquete eu concordo que a Patrícia não teve culpa nenhuma. Tem muito corneteiro inventando moda também.

Mas só discordo que a falta do Baby foi menos sentida que a de Coloneze e Alírio. Baby era como o Adriano, que segura 2 zagueiros ao mesmo tempo. O Baby conseguiria se impor sobre o Estevam, coisa que o Vagner não conseguiu (bom jogador, mas muito baixo para pivô), e o Alírio não conseguiria (muito lerdo), e o Coloneze também não (não chega aos pés do Estevam). Com o Baby, teriam que ajudar mais o Estevam na marcação, e sobraria mais espaço para os chutes de fora.

Por isso, peço que inicie uma campanha para trazer o Murilo para o Flamengo. O Murilo é um excelente pivô, que tem um bom arremesso, tem mantém a regularidade nas atuações, e é muito disciplinado. Quando o Baby saiu, seria o nome ideal para a substituição.

SRN

André Monnerat disse...

Elton, talvez eu não tenha me expressado bem.

O Baby é melhor que o Alírio e o Coloneze. Fato! Ao menos, enquanto consegue jogar (ano passado, se pendurava com faltas com uma facilidade enorme).

O negócio é que a falta do Baby até foi driblada ao longo da temporada. A campanha foi boa, chegamos na final, batemos na trave. E na hora H, se for pra falar em falta de pivô, em vez de eu lembrar do que já tinha saído (e foi mal em seu novo time), eu prefiro lembrar que ficamos sem os dois principais que estavam lá. Pra mim, pesou mais ter que usar só a terceira opção da posição na hora da final do que ter perdido o Baby lá atrás.

Flora disse...

O que eu tenho entendido no caso maldonado é que a comissão tecnica ou seja lá quem esteja escolhendo os jogadores que vão ficar e os que serão contratados não quer a permanencia dele. Aí é questão de gosto.
Aí não vejo como a Patricia tenha culpa. Culpa é da pessoa estupida que acha mesmo o maldonado um jogador dispensável.

André Monnerat disse...

Flora, repare que eu coloquei "gestão Patrícia Amorim" no título, e não "Patrícia Amorim".

Tem coisa aí que foi responsabilidade do Marcos Braz, outras devem ser responsabilidade de outros que receberam determinadas funções.

Elton disse...

André. Obrigado pela resposta.

Ok. Concordo em 90%. Mas independente disso, acho que uma equipe top tem que ter um pivô top. O que acha do Murilo?

André Monnerat disse...

Elton, não conheço o Murilo tão bem, mas é um dos pivôs top da liga.

Claro que ter um pivô realmente bom faz diferença. O Flamengo sente falta de mais jogo de garrafão. O Teichmann, quando está em quadra, já melhora muito isso, é um tipo de jogador incomum por aqui. Se sair, como andam falando, vai fazer muita falta.

Insurance USA disse...

Vamos lá:

1- Acho justo que na parte da base campeã se inclua que o Zé Roberto esteve pra voltar, não veio pq a diretoria cruzou os braços.

2- Acho q nessa má avaliação entra justamente o fato de não terem trazido reforços. O único cara pra função do Éverton e do Zé Roberto era justamente o Pacheco.

De pleno acordo sobre a má avaliação do Andrade, maior culpada pelo fato de não termos engrenado.

3- Essa do ônibus, pra mim, foi a pior de todas. E a que deu mais prejuízo...

4- Concordo sobre o basquete, com a ressalva de que ela não resolveu a deficiência do pivô. Mas acho foda criticar um time q chegou na final. E acho mesmo q o fato de ter acertado os salários é digno de aplausos.

5- Prefiro não falar sobre o marketing por enquanto.

Insurance USA disse...

Eu acho q não há desmonte, se você traz substitutos.

Mas é aquilo: o Fernando veio pro lugar do Airton e o Ramon pra reserva do Pet. O Love pode ser considerado substituto pro Zé Roberto? Pode. Mas é bom lembrar q mesmo com ele vindo, o Braz tentou negociar a permanência dele, que acabou não rolando.

E o Éverton ficou sem substituto.